The Moon: Sobrevivente (Coreia do Sul, 2023)
Título Original: 더 문 Deo mun
Direção: Kim Yong-hwa
Roteiro: Kim Yong-hwa
Elenco principal: Sul Kyung-gu, Do Kyung-soo, Kim Hee-ae, Jo Han-chul, Amy Aleha, Park Byeong-eun, Choi Byung-mo e Paul de Havilland
Duração: 129 minutos
Distribuição brasileira: Sato Company
Existe um estereótipo dentro do cinema de ficção científica, que inclusive já foi superado por produções recentes, de que sempre que um alienígena resolve invadir o planeta Terra ele o faz em território estadunidense, e que quer ser levado ao líder do planeta, considerado pelo povo o presidente dos EUA. É claro que em um cenário de Guerra Fria e corrida espacial, este era um assunto particularmente relevante na disputa entre o país e a União Soviética. Mas, com décadas passadas desde a queda do Muro de Berlim, é intrigante que um novo ascendente na disputa do soft power nas telas, a Coreia do Sul, faça um grande filme de exploração espacial.

Nos primeiros segundos da obra já somos imersos em uma peça de publicidade sul-coreana sobre a exploração espacial, que inclusive nos dá todas as informações necessárias para compreender o universo fictício criado. Somos informados sobre a missão anterior de tentativa de pouso na Lua que terminou em uma tragédia nacional, e entendemos a importância deste passo para o país dada a oportunidade de exploração de recursos. É uma escolha muito prática, pois a obra consegue trazer a imersão e informação em doses uniformes, tornando-se fácil de acompanhar mesmo para o público menos versado na linguagem visual do gênero.
De maneira controlada e bastante consciente de quais serão as reações do público, o filme cria uma narrativa de heroísmo que já é conhecida de todos os filmes de ação. O diretor e roteirista Kim Yong-hwa, que já dirigiu filmes de grande sucesso comercial em seu país de origem, emula muito bem a visão de exploração espacial que foi difundida pelos EUA, e deixa claro ter o conhecimento técnico para realizar cenas de ação tão grandiosas quanto aflitivas. Ele demonstrou bastante controle tanto da narrativa quanto das necessidades tecnológicas necessárias para traduzi-la para as telas de maneira satisfatória, o que é um grande feito.
Mas aproveitando a narrativa heroica construída, percebe-se que a obra tenta se aventurar a dar um passo a mais para criar uma crítica ao modelo citado no qual os EUA estão sempre na frente e prontos para salvar o dia. Criam-se conflitos internos e externos com os personagens principais, e mesmo a personagem americana da NASA inicialmente aparece como alguém não disposto a colaborar. Ainda que se dê este primeiro passo, infelizmente a narrativa deixa de ousar em seu discurso para ceder justamente ao mesmo tipo de narrativa que começou a criticar. Apesar de ele criar uma boa perspectiva para dar um passo além da narrativa clássica, ele cede ao sistema ao permitir que seus personagens tomem decisões interessantes para a narrativa, mas que não parecem realistas com aquele universo criado em tela.
Além disso, o excesso de heroísmo também incomoda. Se na primeira hora a ideia de ter um personagem sozinho no espaço é incômoda, a quantidade e tamanho dos empecilhos colocados em seu caminho acabam desconectando o espectador da narrativa, justamente por chegar em um ponto em que suas ações e feitos parecem não ser mais tão relevantes. Diferente dos seus dois filmes anteriores, que tratam de uma narrativa épica que envolvem deidades e feitos sobre-humanos, aqui estamos tratando apenas de um ser humano extremamente bem treinado. O tamanho do desafio e a sua reação a ele simplesmente fogem da proposta colocada desde o início da narrativa.
Por mais que a obra funcione muito bem como entretenimento e deixe os fãs de filmes de ação tão empolgados quanto os de ficção científica, ele acaba se tornando uma promessa não cumprida, o que é decepcionante dado o claro talento de toda a equipe envolvida no longa-metragem.