Crítica | Mostra de SP | Continente

Continente (Brasil, Argentina e França 2024)

Título Original: Continente

Direção: Davi Pretto

Roteiro: Davi Pretto, Igor Verde e Paola Wink

Elenco principal: Olívia Torres, Ana Flavia Cavalcanti, Corentin Fila, Silvia Duarte, Breno de Filippo, Sirmar Antunes, Cássio Nascimento e Mauricio Paniagua

Duração: 115 minutos

Distribuição brasileira: Vitrine Filmes

Se o marketing do filme não estivesse voltado para isso, seria difícil entender Continente como um filme de terror sem saber muito sobre sua trama. O filme se inicia com Amanda (Olívia Torres) chegando a uma cidade pequena no interior com seu namorado francês Martin (Corentin Fila). Seguimos em uma estrada com uma câmera subjetiva, compreendendo que cada vez se fica mais longe de grandes centros urbanos, e então se chega a uma grandiosa fazenda, onde descobrimos que o pai da garota está em um coma, prestes a morrer. É aí que a trama se encontra com outra personagem muito importante, a médica Helô (Ana Flavia Cavalcanti), que cuida do pai da garota com a mesma atenção que de todas as outras pessoas que trabalham naquela fazenda.

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Nesse primeiro momento, no qual ainda se poderia pensar que o filme descambaria para um drama social, as peças do jogo vão sendo colocadas à mesa. Compreendemos que os trabalhadores ali estão em um regime de trabalho estranho, ainda que no primeiro momento não se compreenda porque. Essa estranheza vaza para outras camadas da convivência, com Helô muito preocupada com a população local e com eles aparecendo com diversos machucados. Com a morte do senhor cada vez mais próxima, todas as tensões vão afunilando para compreender como funcionará a sucessão da fazenda quando ele partir. Novamente, ainda que exista uma esfera incompreensível, tudo parece caminhar para a eterna discussão brasileira sobre direitos dos funcionários e a exploração generalizada da mão de obra, normalmente pobre e negra. Colocando ainda um embate indireto entre a garota branca e privilegiada e a médica negra e muito trabalhadora, o que vem como sobrenatural funciona como bode expiatório dessa tensão criada.

Sem entrar em detalhes sobre os acontecimentos do acerto de contas entre a população e Amanda, é necessário dizer que o caminho escolhido torna o filme, que poderia ser facilmente esquecido, em algo mais interessante. Sem medo de ousar e seguir um caminho que mistura sangue, tesão e uma espiral de loucura, ele cria imagens pouco exploradas pelo nosso terror.

É necessário reforçar que a obra tem sucesso em sua iniciativa principalmente por conta das boas atuações em papeis principais, com Olívia e Ana Flavia conseguindo manter suas personagens interessantes mesmo nos momentos em que as falas caem para o óbvio. Infelizmente o elenco de apoio parece seguir por um caminho um pouco mais óbvio de medo e trauma, até antecipando a tensão que vem ao final da trama.

Em uma mistura pouco usual no cinema brasileiro, o filme faz um bom trabalho com o uso de sangue. Mesmo que a metáfora seja um pouco básica, ele competentemente entrega aquilo que se propõe.

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