Sinfonia de um homem comum (José Jofilly, 2022)

No atual momento da política internacional, com a dificuldade de se enxergar o fim da Guerra da Ucrânia, um dos assuntos que esteve em pauta foi exatamente a passividade de órgãos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU). E, apesar do documentário Sinfonia de um Homem Comum retratar acontecimentos anteriores aos atuais eventos, é impossível não reconhecer a circularidade dos fatos.

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A história contada de maneira quase linear é a de José Bustani, diplomata brasileiro que foi o primeiro diretor da Organização de Proibição de Armas Químicas (OPAQ), principalmente em relação ao golpe por ele sofrido exatamente pela correta realização de seu trabalho. Como é explicado em pormenores no filme, a execução de suas funções implicava em vistoriar o estoque de armas químicas no Iraque em um momento em que a invasão estadunidense ao país era iminente, e isso lhe custou o cargo e perseguição política. Mais do que isso, Bustani não foi defendido nem pela sua própria pátria, que não quis se colocar em oposição ao gigante econômico.

Em certa medida, o documentário causa a reflexão sobre todos os fervores envolvidos em uma guerra e como é necessário criar uma narrativa específica para possibilitar as invasões de interesse econômico – e como grande parte das nações concorda em manter esse como seu objetivo principal. Ao mesmo tempo, ele serve como elemento que ajuda a melhorar a autoestima do povo brasileiro, que com seu complexo de vira-lata ignora suas figuras importantes, como é o caso do diplomata. Exatamente por mostrá-lo como um homem comum, e, como a cena inicial mostra, hoje pianista, percebe-se que sua relevância é simplesmente descartada.

Apesar disso, o documentário utiliza poucos artifícios visuais e narrativos que o tornem original, sendo uma boa história contada de maneira simples. O uso de entrevistas e narração em off torna-se um pouco cansativo apesar de sua curta duração, e é nos momentos que Bustani mostra suas fotos e mergulha em suas lembranças que se torna mais emocionante. Há ainda uma simplificação excessiva do que ocorreu para tornar a história mais palatável aos espectadores, mas desconsiderar o passado do Iraque com armas químicas, do seu uso à sua promessa de destruição, parece ser uma decisão narrativa parcial.

Se atualmente podemos perceber o resultado dos oito anos da ocupação do Iraque com consequências diretas na situação do Oriente Médio, a impossibilidade de revisitar o passado não permite compreender quais seriam os resultados se o país realmente tivesse aderido à OPAQ, e tentar fazê-lo é um revisionismo sem possibilidade real de resolução dos problemas do presente. Ao mesmo tempo, visibilizar um homem que parece ter sido esquecido pelo tempo é uma tarefa complexa, que o diretor José Joffily consegue realizar.

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