Crítica | 75ª Berlinale | The Ice Tower

The Ice Tower (França, Alemanha e Itália, 2025)

Título Original: La Tour de glace
Direção: Lucile Hadžihalilović
Roteiro: Geoff Cox, Hadžihalilović e Alante Kavaite
Elenco principal: Marion Cotillard, Gaspar Noé, August Diehl, Clara Pacini, Lila-Rose Gilberti, Dounia Sichov e Carmen Haidacher
Duração: 118 minutos

A história da Rainha de Neve não é um dos contos de fadas mais conhecidos no Brasil, mas tem como base a mesma questão de todas as histórias do gênero: a luta do bem contra o mal e a vitória das boas ações de uma menininha contra uma rainha maligna, tudo em nome do amor. E é nessa história que Lucile Hadžihalilović começou a se inspirar para escrever o roteiro do que depois se tornaria La Tour de glace.

A adaptação é feita com Jeane (Clara Pacini), a garota órfã que na verdade se apaixona pela rainha de gelo de tanto contar a sua história para outra menina em seu orfanato. Então, motivada também por uma garota mais velha que já deixou o abrigo, ela decide fugir para a cidade grande. Seu orfanato fica em uma região não especificada, mas que remonta aos alpes franceses, realmente em meio à imensidão de neve e montanhas, e ela parte para a pequena cidade mais próxima. Já nesta fuga a diretora consegue nos fazer sentir o misto de sentimentos que passaremos a obra inteira refletindo: uma animação pela descoberta de novas coisas, misturada com a aflição de ver uma menina tão jovem se virando sozinha, e o medo do mundo ao seu redor. Quando ela enfim consegue encontrar um local para se esconder, descobrimos que esse na verdade é um set de filmagem, onde está sendo gravada uma adaptação do conto de fadas, com Cristina (Marion Cotillard) sendo a Rainha.

Existem muitos elementos da fotografia e da direção de arte que funcionam perfeitamente para dar à toda a história esse ar de conto de fadas desejado. Por exemplo, todas as cenas externas têm um filtro azulado que se repete na maioria dos momentos em que Cristina está, enquanto as cenas internas ou mais afetivas utilizam uma iluminação mais quente. O cuidado e detalhe com qual o figurino da rainha é tratado também mostra uma grande preocupação com os detalhes estéticos, essenciais para que a narrativa funcione.

Mesmo com a altíssima qualidade estética, existem muitas dificuldades para o público conseguir se conectar com os acontecimentos em tela. Como não se preocupa em criar uma profundidade nas personagens, acaba-se dependendo muito da conexão através do elo criado entre elas. Joga-se muito em cena entre uma espécie de musa e criadora e ao mesmo tempo vilã e mocinha, mas nunca temos os elementos suficientes para desvendar as intenções reais de nenhuma das partes. Ainda que se saia com a sensação de que havia uma mensagem importante sendo passada sobre o desejo da juventude eterna e complexidade da relação entre mulheres, muitas vezes até beirando o homoerotismo, também parece que não conseguimos absorvê-la por conta das camadas que a própria obra coloca para a sua compreensão.

Ocorre uma mistura de referências, ora flertando com um misticismo simbólico, ora com cenas que ameaçam se jogar ao terror, que faz com que seu cerne fique confuso. E, confusos, os espectadores não conseguem se conectar com a obra e apreciá-la, ainda mais com o ritmo lento imposto à atuação e aos acontecimentos da trama.

É possível que uma segunda visita ao filme seja benéfica ao espectador, mas infelizmente como obra sozinha, vista uma vez, faltam elementos para poder apreciá-la. 

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