Crítica | Código Preto

Código Preto (Reino Unido, 2025)

Título Original: Black Bag
Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: David Koepp
Elenco principal: Michael Fassbender, Gustaf Skarsgard, Cate Blanchett, Tom Burke, Marisa Abela, Regé-Jean Page, Naomie Harris e Kae Alexander
Duração: 93 minutos
Distribuição brasileira: Universal Pictures Brasil

É muito difícil encontrar um diretor com a adaptabilidade de Steven Soderbergh, que em seus 36 anos de carreira dirigiu filmes de praticamente todos os gêneros. Não à toa, em 2025 ele tem o lançamento de seus dois filmes mais recentes, o filme de espionagem Código Preto e o terror Presença.

Em Código Preto, o diretor brinca com o filme de espionagem cujo objetivo é descobrir quem é a pessoa que está traindo a agência para a qual eles trabalham. Seguimos especificamente George Woodhouse (Michael Fassbender), casado com a também espiã Kathryn St. Jean (Cate Blanchett) e que já nas primeiras cenas da obra recebe a missão de descobrir, entre um grupo de cinco pessoas, quem é o responsável por um vazamento de um projeto misterioso.

Algo que torna o andamento da obra bastante interessante é que o roteiro e direção conseguem manter a tensão ao não dar aos espectadores as informações de maneira direta. Não sabemos exatamente qual é a agência para qual eles trabalham, dificilmente nos estendemos nas especificidades de cada um de seus cargos e por boa parte do filme não sabemos nem o que é o programa que eles estão se referindo. Mesmo na primeira cena da obra, há um jogo de câmera para esconder a identidade do personagem principal, mostrando apenas as suas costas ou o seu perfil. Não há o excesso expositivo que normalmente faz com que os espectadores facilmente descubram toda a trama, e ao invés disso há um jogo sagaz sobre o funcionamento social daquelas pessoas. Os enquadramentos elegantes funcionam melhor do que o diálogo, pelo menos até o momento em que o filme precisa ser expositivo para resolver o conflito principal, e acaba perdendo parte desse charme.

Há também uma grande atualização do gênero, que no início pode ser até incômoda, mas que ao longo do tempo passa a fazer sentido: há poucas cenas de ação. Acostumados com as cenas incríveis de Missão Impossível ou do clássico James Bond, inicialmente somos levados a sentir falta do estímulo visual e da adrenalina do qual filmes de espionagem normalmente bebem. No entanto, ao refletirmos sobre o assunto, essa é uma escolha que faz bastante sentido quando até as nossas guerras estão sendo resolvidas por drones e mísseis. Faz muito mais sentido pensar nessa espionagem moderna como a criação de códigos e análise de dados do que em uma pessoa que de fato se locomova e se exponha ao risco quando isso não é necessário.

Com essa decisão, há muito mais tempo para que os atores consigam brilhar em tela através de personagens complexos e com vidas bastante atribuladas, dado que, como eles mesmo dizem, eles têm uma desculpa profissional para mentir ou ocultar dados. Além da química entre Blanchett e Fassbender que quase faz com que a história se torne um romance, o casting de todos os personagens secundários é muito eficaz, priorizando além da boa atuação uma elegância inerente, que dialoga com o imaginário de espiões criado por Hollywood. Somos apresentados a essas pessoas absolutamente glamourosas, mas de convivência igualmente difícil devido ao seu nível de inteligência altíssimo alinhado à capacidade de investigar a vida de seus companheiros.

Ainda que não seja uma obra particularmente inovadora e surpreendente, ela dá uma nova roupagem a um tipo de filme que tem perdido espaço em um mundo globalizado e altamente especializado. É bastante difícil não se entreter com o que está passando em tela, ainda que também seja difícil imaginar que é uma obra que acompanhará espectadores por muito tempo após o apagar das luzes da sala de cinema.

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