Como Treinar o Seu Dragão (Reino Unido e EUA, 2025)
Título Original: How to Train Your Dragon
Direção: Dean DeBlois
Roteiro: Dean DeBlois, Cressida Cowell e William Davies
Elenco principal: Mason Thames, Nico Parker, Gerard Butler, Julian Dennison, Gabriel Howell, Bronwyn James, Harry Trevaldwyn, Nick Frost e Kate Kennedy
Duração: 125 minutos
Distribuição brasileira: Universal Pictures
Ao pensarmos no recente cenário das adaptações live action de animações clássicas, é quase natural que devido ao excesso de produções ocorrido nos últimos anos, tenha-se uma sensação de cansaço. De que teremos mais um filme surgindo que potencialmente irá ajudar a exaurir uma fórmula que já está gasta e que produziu poucos filmes que realmente deram sentido a essa readaptação. Ainda assim, por se tratar da primeira vez que o estúdio Dreamworks o faz, uma curiosidade sobre as possibilidades de uma renovação desse cenário não deixa de surgir.

Como Treinar o Seu Dragão (2010) é uma animação relativamente recente, o que faz com que mais suspeitas em relação ao seu live action apareçam, com a maioria do público já conhecendo bem a história que será contada. Mas somos novamente apresentados à cidade de Berk, onde as pessoas são moldadas pela sua eterna briga com a peste da cidade, os dragões. Só que nosso protagonista, Soluço (Mason Thames) é uma espécie de forasteiro em seu próprio lar, tanto pelo seu visual muito distante do esperado de um viking quanto pelas suas ideias que priorizam a esperteza ao uso de força bruta. Assim, quando ele acaba conhecendo o dragão Baguela, ele utiliza a sua energia para entendê-lo melhor e assim inicia uma relação inusitada que muda para sempre a vida dos moradores de Berk.
Se em um primeiro momento a história parece bastante semelhante à Lilo & Stitch (2002) e percebermos que temos o mesmo diretor para ambos e até para as suas recriações em live action, percebe-se que Dean DeBlois é um especialista em contar histórias sobre jovens deslocados de seus iguais e que encontram o afeto através de uma amizade fantástica. E, antes que possa surgir alguma dúvida sobre o quão original é a história de Como Treinar o Seu Dragão, basta lembrar que essa amizade fantástica é o único elo em comum entre as obras. Da técnica de animação, passando pela ambientação e até as características pessoais dos personagens, tudo mais difere, criando um resultado bastante original.
E, quando passamos a analisar as semelhanças e diferenças entre a animação e o live action, percebemos que o trabalho do diretor foi o de compreender quais seriam as características próprias de cada uma das linguagens para utilizá-las a favor do filme – e ainda mantendo a sua essência de fábula sobre amadurecimento. A base da história segue sendo a mesma, mas são acrescentados detalhes sobre os personagens que ajudam a criar a realidade inventada pelo filme, e consequentemente tornam esse universo que, fora da animação, poderia soar forçado, absolutamente crível.
Quando pensamos no elemento mais surreal de toda a narrativa, que é o dragão Banguela, apesar de sua recriação com efeitos especiais, percebe-se que sua personalidade segue parecida: protetor, territorialista, teimoso e extremamente afetivo. Seus comportamentos, ora felinos e ora caninos, que encantaram os espectadores há mais de dez anos, certamente conseguirão fazê-lo novamente. E, aproveitando a oportunidade de criar cenas visualmente espetaculares como a de seus voos, o filme investe tempo em realizá-las, levando o público a este estado de encantamento que é tão típico do cinema.
Isso também acontece com todos os detalhes necessários em tela. Desde a arquitetura das casas, os desenhos feitos por Soluço, os figurinos e penteados dos personagens, tudo se une para criar essa sensação de comunidade que é tão importante para que a obra funcione. Até questões mais básicas, como o mínimo de representatividade considerando o povo originário do Norte da Europa, são colocados em cena de forma orgânica, através de diálogos e ações que fazem sentido com a sua lógica interna.
Como Treinar o Seu Dragão é um deleite. Talvez para os fãs mais aficionados, que relembram da animação em cada detalhe, ele possa ser repetitivo. No entanto, para quem só acompanha o cinema por gostar da arte e do entretenimento, ele possivelmente é a adaptação de animação que mais fez sentido no último ano. E, aqui, aviso que este é um filme que a qualidade da imagem e do som fazem toda a diferença, uma vez que ele foi pensado a partir disso – ou, em outras palavras, é um filme que vale a pena buscar assistir na melhor sala possível.