Resenha | O Ritual

O Ritual (Estados Unidos, 2025)
Título Original: The Ritual
Direção: David Midell
Roteiro: David Midell, Enrico Natale
Elenco principal: Al Pacino, Dan Stevens, Ashley Greene, Abigail Cowen, Patricia Heaton, Patrick Fabian e Maria Camila Giraldo
Duração: 1h38min (98 minutos)
Distribuição: Paris Filmes

Existe algo de curioso em O Ritual: uma hesitação quase programática em se assumir enquanto obra de exorcismo. Ao optar por uma estética de câmera trêmula, numa tentativa de conferir um verniz documental, o filme parece se afastar da solenidade e da gravidade que o tema naturalmente carrega. É uma escolha que, em vez de potencializar a imersão, acaba dissolvendo parte do impacto dramático, transformando o que deveria ser um mergulho no terror em algo mais próximo de um registro corriqueiro, quase uma encenação de bastidores.

Essa abordagem, que parece interessada em buscar novos ângulos sobre o exorcismo, acaba impondo uma frieza que enfraquece o terror e retira dele sua principal força: a ritualística. Há um medo, quase palpável, de abraçar a própria essência, de assumir-se enquanto narrativa de possessão e embate espiritual. E quando o filme decide priorizar conflitos internos de personagens pouco desenvolvidos, isso só evidencia ainda mais essa recusa.

Curioso também notar que O Ritual possui momentos tecnicamente competentes, com efeitos bem realizados e atuações sinceras, o que torna ainda mais intrigante a presença de Al Pacino num projeto que parece não confiar no poder do próprio tema. Se há algo que desperta real interesse, é justamente essa estranha escolha de mise-en-scène, que por vezes remete ao humor involuntário de pegadinhas televisivas: uma provocação visual tão deslocada que acaba sendo mais memorável que a própria história.

Talvez um dia esse tipo de filme perceba que sua potência não reside nas crises de fé recicladas, mas sim na encenação do rito, na solenidade do gesto e na violência simbólica do enfrentamento com o maligno. Enquanto isso, seguimos fascinados, não pelo medo que desperta, mas pelo enigma que representa: por que, afinal, recusar aquilo que poderia torná-lo único?

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