Crítica | Cobertura 2º Festival Filmes Incríveis | Rabia – As Esposas do Estado Islâmico

Rabia – As Mulheres do Estado Islâmico (França, 2024)
Título Original: Rabia
Direção: Mareike Engelhardt
Roteiro: Mareike Engelhardt e Samuel Doux
Elenco principal: Megan Northam, Lubna Azabal, Natacha Krief, Lena Lauzemis, Maria Wördemann, Klara Wördemann e Andranic Manet
Duração: 1h e 35min (95 minutos)
Distribuição: Pandora Filmes (estreia nos cinemas em 21/08/2025)

Drama francês faz denuncia sensacionalista contra misoginia do Estado Islâmico

Filmes de denúncia costumam ter o propósito de expor uma determinada problemática social e, com isso, conscientizar o público sobre o assunto, gerando um debate para além das salas de cinema. É o caso de dramas hollywoodianos baseados em histórias reais, como Todos os Homens do Presidente (1976), Spotlight: Segredos Revelados (2015), O Preço da Verdade (2019) e O Escândalo (2019).

Contudo, alguns títulos desse subgênero, por vezes, caem em um lugar comum: explorar nossa indignação frente à temática com o choque de realidade, sem aplicar a verdadeira potência interventiva do cinema. Infelizmente, este é o caso de Rabia – As Esposas do Estado Islâmico, que foge do circuito estadunidense e, ainda assim, comete os mesmos tropeços.

Na trama, acompanhamos Jessica (Megan Northam), uma jovem farta de seu trabalho como enfermeira e do tratamento indiferente do pai dentro de casa. Com a promessa de uma nova vida, ela deixa seu lar e parte para a Síria ao lado de sua melhor amiga (Natacha Krief), para se juntar ao Daech, um grupo do Estado Islâmico. Lá, as duas passam a morar com outras futuras esposas de combatentes e aprendem sobre o jihadismo enquanto são lideradas pela carismática e impiedosa Madame (Lubna Azabal).

Nos primeiros trinta minutos de Rabia – As Esposas do Estado Islâmico, compreendemos tudo o que precisamos saber sobre a protagonista. A chave do roteiro está na cena em que Jessica prova sua lealdade à organização terrorista ao queimar a única lembrança que lhe resta da mãe. Ali, ela ganha uma nova identidade: é batizada como Rabia e projeta toda a carência materna e devoção na figura de Madame.

Desse momento em diante, nada relevante acontece na tela para que a narrativa avance, e o filme se torna uma verdadeira tortura assistida. Rabia é deixada pela melhor amiga, passa por uma tentativa de estupro e sofre violência física e psicológica em um cativeiro por dias. Sua desgraça, no entanto, vira combustível para a submissão a Madame, e ela sai da posição de oprimida para se tornar opressora ao lado da mentora.

Para realizar o filme, a diretora e corroteirista Mareike Engelhardt se baseou em entrevistas que fez com ex-membros do ISIS (Estado Islâmico do Iraque e da Síria, em inglês Islamic State of Iraq and Syria), optando por não criar elementos fictícios. O preciosismo de representar a opressão visceral desses personagens sem tirar nem pôr, contudo, estrangula a liberdade criativa que a sétima arte permite para adaptar a potência da realidade à ficção.

Esse tom quase documental, ao representar a denúncia a partir dos relatos, impede que nos conectemos emocionalmente com Rabia e que sua história ganhe proporções tridimensionais nas telonas — permitindo, assim, enxergar a trajetória de tantas outras mulheres tendo a dela como prisma. Em vez disso, o que temos é um filme protocolar e apelativo, que se inicia com as famosas letrinhas de dados contextuais e se encerra com as mesmas. O resultado é uma sequência preguiçosa e previsível de acontecimentos.

Talvez uma das melhores definições de Rabia – As Esposas do Estado Islâmico seja a que ouvi involuntariamente de um dos espectadores logo após sair da sessão: “É um filme sensacionalista.”

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