Crítica | Cobertura 2º Festival Filmes Incríveis | Bury Us in a Lone Desert

Bury Us in a Lone Desert (Vietnã, 2025)
Título Original: Bury Us in a Lone Desert
Direção: Nguyễn Lê Hoàng Phúc
Roteiro: Nguyễn Lê Hoàng Phúc
Duração: 1h e 02 minutos (62 minutos)

Média-metragem vietnamita reverencia a linguagem do cinema clássico ao adaptar uma história real inusitada

Um ladrão invade uma casa e, durante o furto, esbarra na estátua da falecida esposa do morador. O viúvo, em vez de chamar as autoridades para prendê-lo, faz um pedido inesperado: que o invasor o ajude a enterrar a estátua no meio do deserto, para que ele possa morrer em paz ao lado da amada. Em troca, oferece a herança do casal. A curiosa trama poderia se contentar em adaptar a notícia real na qual se baseia e fazer disso o seu trunfo; contudo, a direção do vietnamita Le Hoang Phuc Nguyen vai além.

A experiência de assistir Bury Us in a Lone Desert é um tanto quanto peculiar. Trata-se de um filme de apenas sessenta e dois minutos de duração, que enquadra a maior parte da narrativa por meio de um iris frame (círculo). Em seguida, o média-metragem adota a estética do western, com planos abertos em tons terrosos e o sol castigando as dunas áridas.

O tipo de enquadramento é uma escolha clássica, que remete ao período do cinema mudo e hoje raramente é utilizada por cineastas. A restrição do campo de visão do espectador direciona exatamente para onde o diretor quer que olhemos. Essa é uma decisão ousada em uma época em que o público está habituado a inúmeros estímulos visuais e acontecimentos simultâneos nas telonas.

A relação com o western spaghetti, por sua vez, é mais simbólica. Nguyen traça paralelos com o estilo italiano para dar contornos cinematográficos ao seu roteiro simplório. Ele consegue captar a atmosfera do faroeste por meio da solidão da dupla de protagonistas. O ladrão e o viúvo não têm armas, cavalos ou chapéus. Ainda assim, são essencialmente espíritos em busca de acolhimento, representações da alma dos cowboys em crise.

O encontro taciturno é complementar para ambos. O idoso, um cuidador nato, encontra alguém a quem oferecer atenciosos atos de serviço após a perda da esposa. Já o invasor acha um lar para chamar de seu, os recursos que lhe tragam paz e o abraço que procura por meio da infração. A última cena encerra o acordo entre os dois com a sombra do jovem sobre a cova do casal, enterrando-os com respeito e afeto. Dá a eles o fim que desejavam — e a ele, um novo começo.

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