Crítica | Ladrões

Ladrões (EUA, 2025)
Título Original: Caught Stealing
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Charlie Huston
Elenco principal: Austin Butler, Regina King, Zoë Kravitz, Matt Smith, Liev Schreiber, Vincent D’Onofrio e Benito A. Martínez Ocasio
Duração: 107 minutos
Distribuição brasileira: Sony Pictures

Um belo dia, o vizinho do personagem principal vai viajar para visitar o pai doente e ele fica encarregado de cuidar do seu gato. Ao visitar o apartamento para buscar a ração, ele é surpreendido por dois russos violentos que lhe espancam em busca de informações sobre o paradeiro do vizinho. A partir daí, ele se vê envolvido em um conflito entre máfias e policiais corruptos, sem ser capaz de compreender exatamente o que está acontecendo e no que o seu vizinho o enfiou. Se o enredo acima parece um tanto familiar é porque o novo filme de Darren Aronofsky não passa de um agrupamento de clichês narrativos de filmes de gangues. 

É a história de Hank (Austin Butler), personagem principal que passa a ter que fugir de literalmente todo mundo que aparece na sua frente no decorrer do longa, já que absolutamente ninguém se mostra digno de confiança. Somos apresentados a ele durante o trabalho como bartender em um bar quase estereotipadamente estadunidense, enquanto sua namorada, Yvonne (Zoë Kravitz), o apressa para encerrar a noite e ir com ela para casa. No dia seguinte, ele faz uma ligação para a mãe e comenta sobre os jogos de beisebol da temporada. O filme nos apresenta um jovem comum, que leva uma vida normal até o incidente que vira tudo de cabeça para baixo. 

O roteiro de Charlie Huston não é nada sutil, do início ao fim. O primeiro diálogo entre Hank e Yvonne estabelece em poucas falas que eles são jovens e se conhecem há pouco tempo. A primeira conversa com a mãe deixa claro que as ligações são diárias e o amor pelo beisebol é intenso. Então não surpreende que, assim que os mafiosos entram em cena, a violência do filme escalona rapidamente. Um dos homens da máfia russa que espanca Hank no primeiro encontro é um grande estereótipo do capanga que só entende a linguagem da pancadaria e abusa da violência de forma claramente desnecessária – mas o filme se utiliza disso para nos confirmar que realmente não há como esperar nada de sutileza dessa história. Isso pode ser um recurso interessante se bem utilizado. Neste caso, senti que serviu apenas para diminuir o filme e as personagens, já que tudo fica raso. Importante citar que o filme é uma adaptação de um livro escrito pelo próprio Huston – e não são poucos os casos em que escritores tentaram adaptar a própria obra para outra linguagem e o resultado final ficou aquém do esperado. 

A direção do Aronofsky (pela segunda vez seguida filmando um roteiro de outra pessoa, adaptado de outra obra pelo próprio autor) parece estar em piloto-automático. Desde que o trailer saiu, não foram poucas as comparações com os filmes do Guy Ritchie e, ao final da sessão, não faltaram comentários reafirmando a semelhança. O problema não é fazer parecido, mas sim criar um genérico daquilo que já conhecemos e isso é o máximo que Aronofsky consegue neste filme. Enquanto fã do diretor, não posso dizer que não fui surpreendido. É de se esperar que alguém que tem uma carreira tão embasada e autoral e acabou de sair de um tropeço (o famigerado A Baleia) busque entregar um novo trabalho que reafirme sua potência. Infelizmente, não foi o caso – é exatamente o contrário. A sensação é de que ele não fez questão de se esforçar muito. 

O elenco do filme está ótimo e se utiliza muito bem do material que lhe é dado. Regina King está incrível como sempre no papel de uma detetive que se apresenta como uma das poucas personagens dispostas a ajudar Hank. Matt Smith surpreende mais uma vez como o vizinho punk Russ, em uma construção de personagem bem diferente do que ele já fez antes. Até Benito A. Martínez Ocasio, o famoso Bad Bunny, entrega uma boa performance como o chefe latino dos capangas russos. É interessante ver Austin Butler se divertindo em um papel mais solto e casual do que os soturnos Elvis e Feyd-Rautha (de Elvis e Duna: Parte Dois respectivamente) que lhe elevaram ao status de estrela e acho válido citar uma participação especial surpresa de uma atriz queridinha dos cinéfilos em uma cena que vem logo no início dos créditos. 

Quanto mais o filme passa, mais parece impossível Hank encontrar uma saída para o seu problema. Já passou do ponto em que pessoas próximas a ele começaram a ser assassinadas por seus perseguidores e as consequências dessa brincadeira não têm mais volta. Impossível não lembrar de filmes como John Wick, em que chega um momento que você pensa “ou ele vai ter que se dedicar a exterminar a máfia inteira sozinho ou aceitar que sua vida acabou e aqueles que ama estão em constante perigo”. Porém em um dado momento, o roteiro cria uma solução – veja só – rasa e propõe uma possibilidade de saída que Hank logo aproveita e corre para um caminho que é o mais próximo possível de um final feliz. 

Ladrões é o tipo de filme que não chega a ser ruim (e está longe de ser considerado um tropeço), mas deixa a sensação de que daqui a alguns anos ninguém vai lembrar que existe. Até porque, sendo um “genérico de Guy Ritchie”, mais vale assistir aos filmes deste. O que surpreende é isso vir de um diretor do calibre de Darren Aronofsky. Sigo na esperança de que, no próximo trabalho, ele retome a força que um dia já teve. 

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