With Hasan in Gaza (Palestina, Alemanha, França, Qatar, 2025)
Título Original: With Hasan in Gaza
Direção: Kamal Aljafari
Roteiro: Kamal Aljafari
Existem algumas coincidências impossíveis de serem ignoradas. E possivelmente foi isso que o cineasta Kamal Aljafari pensou quando redescobriu diversas fitas gravadas em preparação para um filme que continham sua experiência atravessando Gaza em busca de um colega de prisão, enquanto estava acontecendo a Segunda Intifada. Praticamente vinte anos depois, com a situação entre Palestina e Israel estando novamente insustentável, rever esse material é como ter uma cápsula do tempo e uma lição histórica sobre a repetição de ciclos.

No entanto, por mais que seja clara a urgência dessa obra e sua importância como documentação histórica, existe uma dificuldade em conseguir expressar essas ideias a partir do formato audiovisual. Como público, inicialmente temos apenas essa conversa ininterrupta entre dois homens, claramente na faixa de Gaza, mas não se compreende o período histórico ou a razão de estarem ali. Passados mais de dez minutos do filme, entendemos que Hasan é o homem que dirige o carro, mas seguimos sem entender exatamente o objetivo da viagem. Então, em 16 minutos de exibição, finalmente temos um título, ainda sem muitas explicações.
Temos uma filmagem ao estilo câmera na mão, apenas tentando documentar os acontecimentos ao redor. Não importa se são apenas crianças brincando com peixes e querendo ser fotografadas, uma feira de rua movimentada, uma casa que foi baleada ou mesmo Hasan falando sobre a diferença de som entre mísseis israelenses ou palestinos. Como acontece muitas vezes em momentos de maior repressão, temos apenas um homem documentando um processo que está realizando, e não um planejamento real de realizar um filme a partir dessas imagens.
Tudo tem a mesma importância aos olhos do diretor, o que faz com que ao mesmo tempo que se tem uma compreensão dessa atemporalidade dos fatos, haja também uma aflição pela falta de localização ou de rumo para essa narrativa específica. Por conta desse caráter quase observacional e com uma montagem bastante clássica, que parece respeitar os acontecimentos na medida em que eles ocorreram, a obra se torna difícil de acessar. Seu ritmo, junto à inacessibilidade de informações ao longo da obra, fazem com que muita da sua força se perca. Considerando um universo fora do nicho de festivais, seriam poucas as pessoas a chegar até o fim da exibição, quando há um simples letreiro que informa a maior parte das informações que não se compreende ao longo do filme.
Considerando o poder das imagens que foram captadas, esse uso específico das palavras escritas despotencializa o conteúdo. Ainda que se compreenda qual parece ser o fio que conduz toda a obra, parece haver um apego pessoal à narrativa que trabalha contra o filme em sua montagem. E isso é uma pena, considerando a relevância do assunto tratado e a preciosidade do material que foi encontrado.