Poltergeist – O Fenômeno (EUA, 1982)
Título Original: Poltergeist
Direção: Tobe Hooper
Roteiro: Steven Spielberg, Michael Grais, Mark Victor
Elenco principal: Craig T. Nelson, JoBeth Williams, Heather O’Rourke, Dominique Dunne, Oliver Robins e Beatrice Straight
Duração: 109 minutos (1h49min)
Não é de se estranhar que, apesar de ter sido dirigido por Tobe Hooper (que já havia se firmado como um nome respeitável no gênero do horror com O Massacre da Serra Elétrica e Pague Para Entrar, Reze Para Sair), o nome de Steven Spielberg é que seja incessantemente associado ao nascimento de Poltergeist – O Fenômeno. Isso porque, apesar de ter sido vendido como uma obra desse gênero, o filme é uma ficção científica assumida (podem ser sentidos ecos de Contatos Imediatos do Terceiro Grau), com toques orgânicos de humor irônico. E devido ao seu sucesso na época e ao firmamento do filme como um clássico do terror, Poltergeist seguiu como um filme mal compreendido e interpretado, apesar de que é válido ressaltar: assim como grandes clássicos do terror como O Exorcista e A Profecia, estranhos eventos fatídicos aconteceram com os envolvidos em Poltergeist.

Sem grandes delongas em sua apresentação, conhecemos no filme o cotidiano da família Freeling, composta pelo casal Steve (Craig T. Nelson) e Diane (JoBeth Williams) com seus três filhos, recém-chegada na nova casa, projetada pela própria empresa onde Steve trabalha como corretor. Já em sua abertura, vemos a caçula da família, Carol Anne (Heather O’Rourke, fascinante com seus longos cabelos loiros) estabelecendo uma estranha interação com algumas vozes que, aparentemente, parecem sair da televisão. A partir deste ponto, objetos da casa começam a se mover sozinhos e talheres ficam tortos, até que tudo culmine no desaparecimento de Carol Anne, cuja voz começa a ser ouvida saindo do aparelho de televisão. Com a ajuda de especialistas no estudo e captura do chamado Poltergeist, a família Freeling começa a tentar encontrar uma maneira de trazer Carol Anne de volta.
Sem responder muita coisa logo de início, o roteiro de Spielberg em conjunto com Michael Grais e Mark Victor apoia sua narrativa tanto nos diversos elementos envolvendo a estranha presença de um poltergeist na casa quanto nas dúvidas sobre o que pode ter levado a família Freeling a passar por tal momento. Para tal, Poltergeist é um filme bastante auxiliado pela exploração de seus efeitos visuais, que dão o tom dos momentos de maior tensão da obra. Passados mais de 30 anos, é visível que os aspectos técnicos do filme não sobreviveram tão bem ao tempo, com algumas cenas abusando da sensação de artificialidade, tal qual o trabalho de maquiagem, visivelmente falso em determinados momentos. Hooper e os roteiristas também pecam ao estender a procura por Carol Anne, onde os personagens buscam a todo momento uma nova solução, mas sem nunca encontrá-la, o que faz com que o ritmo da obra caia consideravelmente nessas passagens.
Mas Hooper engrena novamente perto do final, e joga o espectador num emaranhado de cenas e acontecimentos que possuem força suficiente para segurar a atenção até o final. Ali, o diretor se permite a liberdade de criar um aparente final para brincar com nossas expectativas, com o roteiro construindo uma dinâmica interessante e até bem-humorada sobre os elementos fantasiosos da história. E esse é um dos principais méritos de Poltergeist, pois há a presença do humor inserido em meio às cenas de maior apelo trash, mas estas jamais soam destoadas ou quebram o clima das cenas. Pelo contrário, funcionam como um inesperado e bem-vindo fator de diversão.
Contando ainda com algumas cenas clássicas envolvendo uma gigantesca árvore e um assustador palhaço de brinquedo, Poltergeist – O Fenômeno já não é capaz de assustar a atual geração como fez nos anos 80, embora “assustar” talvez nunca tenha sido o objetivo de Spielberg e Hooper, uma vez que o filme é assumidamente uma ficção com elementos fantásticos que, antes de conseguir causar algum arrepio (consegue isso vez outra), é capaz de divertir e entreter com seu roteiro dinâmico e elementos bem explorados. Não chega a fazer jus ao seu status de clássico, mas é certamente um entretenimento competente, com boas situações e gargalhadas.