Crítica | 50º TIFF | Rental Family

Rental Family (Japão e EUA, 2025)

Título Original: Rental Family
Direção: Hikari
Roteiro: Hikari e Stephen Blahut
Elenco principal: Brendan Fraser, Takehiro Hira, Mari Yamamoto, Akira Emoto, Shannon Gorman e Akira Emoto
Duração: 1h43min (103 minutos)

Apesar de Hikari ainda não ser muito conhecida fora do circuito de festivais, havia uma certa expectativa coletiva em torno de Rental Family, dado o sucesso dos primeiros curtas da diretora. Além disso, ter o agora ator oscarizado Brendan Fraser no papel principal ajudou na criação desse clima.

A ideia principal do roteiro é bastante simples: Phillip (Brendan Fraser) é um ator estadunidense que vive em Tóquio e tem dificuldade para encontrar papeis que fujam dos estereótipos básicos de uma pessoa branca em meio aos japoneses. Surge então uma nova oportunidade de carreira, de atuar em uma agência de familiares por aluguel, com pessoas que o contratam pelos motivos mais diferentes o possível. Apesar de relutante com a ideia, ele acaba aceitando e partindo em uma jornada que na realidade explora muito mais sobre a condição humana e sua busca por conexões do que sobre sua carreira como ator.

Algo que fica claro desde o primeiro momento é o acerto da escalação de Fraser para o papel. Não apenas pelo fato de ele não ser japonês, mas toda a sua fisicalidade sendo um homem extremamente alto, de estrutura óssea grande e olhos azuis extremamente expressivos causam um contraste muito grande em meio às multidões filmadas no metrô ou mesmo nas ruas de Tóquio. O isolamento que percebemos no interior do personagem ganha uma externalidade que o torna óbvio em quase qualquer cena. Isso é somado ao fato de este ser um filme de uma profundidade agridoce e um pouco melancólica, e o ator conseguir criar o ambiente para que o público se sinta emocionado sem se sentir chantageado. Ele consegue trazer uma performance extremamente humana, assim como é todo o roteiro do filme.

Ter uma diretora e roteirista japonesa também faz com que a obra seja possível e não caia nos estereótipos mais simples sobre a vida no Japão e possa explorar questões um pouco mais profundas. Ela não deixa de abordar essas questões mais facilmente encontradas, como as multidões e as impossibilidades de amores LGBTQIAPN+ no país, mas consegue misturar até na forma do filme os conceitos de simplicidade e modéstia tão típicos do país. Desde uma atenção aos detalhes como a relação do xintoísmo e sua integração com as grandes cidades até o modo de habitar em um país com altíssima densidade populacional, ela traz essas características à tona de forma casual e integrada, sem colocar uma lente sobre algo que é comum no dia a dia de seus habitantes – algo que um diretor estrangeiro raramente conseguiria fazer. 

A obra funciona justamente por conta dessa integração entre sua forma e conteúdo, com muitos elementos sendo destacados de forma sutil e deixando o espaço para o que realmente importa: a busca de Fraser por algo que traga mudanças em sua vida e a percepção de que o seu trabalho também poderá mudar a vida das pessoas. O único elemento que se destaca negativamente é a trilha sonora que se torna excessivamente presente em alguns momentos nos quais o silêncio daria ao espectador um tempo de reflexão.

Existem algumas dessas pequenas histórias narradas que são mais profundas que outras, mas isso parece um reflexo dessa vida real que a obra busca retratar. E, por mais que ele não seja um filme com aspectos técnicos incríveis e se baseie nas atuações profundas, mas baseadas no cotidiano, ele foi uma das obras que mais permaneceu comigo após o término do festival.

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