Pai Mãe Irmã Irmão (Estados Unidos, Irlanda e França, 2025)
Título Original: Father Mother Sister Brother
Direção: Jim Jarmusch
Roteiro: Jim Jarmusch
Elenco principal: Tom Waits, Adam Driver, Mayim Bialik, Charlotte Rampling, Cate Blanchett, Vicky Krieps, Sarah Greene, Indya Moore e Luka Sabbat
Duração: 110 minutos (1h 50min)
O lançamento de um novo filme do Jim Jarmusch é algo muito aguardado por uma legião de fãs, dado o seu sucesso na direção de filmes autorais desde 1980 com Férias Permanentes. Passando por diversos estilos e gêneros, o diretor foi capaz de realizar um dos melhores filmes de vampiros já feitos (Amantes Eternos), e nos emocionou com seu caminhoneiro poeta Peterson.

Assim, quando foi anunciada a premiação do Festival de Veneza de 2025, com Pai Mãe Irmã Irmão, as expectativas foram levadas às alturas, ainda mais considerando toda a polêmica criada em cima da premiação. Isso porque o próprio júri teve desavenças na premiação, com uma questão política envolvendo a premiação para A Voz de Hind Rajab em um momento em que a guerra entre Palestina e Israel estava ainda mais em foco. Ou seja, todos os detalhes nos levavam a crer que o novo filme de Jarmusch seria bombástico.
A obra se divide em três partes, sugerida pelas cores dos familiares no título: uma para o Pai, uma para a Mãe, e a final para a Irmã e o Irmão. Cada uma narra uma história autocontida, com a principal questão ser a de todas estarem relacionadas ao âmbito familiar. No primeiro, dois irmãos visitam o seu pai, que mora em uma região bastante afastada nos EUA. No segundo, duas irmãs visitam a sua mãe com a qual mantém pouco contato. E, por fim, dois irmãos vão visitar o apartamento dos pais após a morte deles em Paris.
É perceptível que existe uma tentativa de racionalização e de universalização da experiência familiar, com as mesmas frases sendo repetidas em todas as histórias, mas isso é realizado com tamanha falta de naturalidade que só pode ser comparada à adição da menção da relojoaria Rolex em todas elas. Confia-se muito que a utilização de diversas locações trará a sensação de algo mais geral, mas esquece-se que ainda são atores falando em inglês e com um formato de família muito específico, mais ligado aos países europeus e estadunidenses. Em países da América Latina, por exemplo, onde existe uma maior profundidade nesses laços, há uma grande dificuldade em se conectar com a maior parte das narrativas.
A questão da construção dos personagens também parece sofrer deste mesmo mal. Ainda que existam algumas relações com as quais é possível se identificar, justamente pelo apelo familiar, parece existir muito mais referência e atenção na construção das imagens apresentadas pela direção de arte do que, de fato, empenho na construção de personagens que sejam críveis. Considerando a pouca quantidade de tempo de tela que cada um deles têm, talvez a criação de personalidades mais arquetípicas e menos complexas poderia funcionar melhor para contar a história que se deseja. Isso se soma ao fato da obra reunir um elenco excelente e que consegue criar mesmo com o pouco que lhes é oferecido pelo roteiro e deixa a impressão de uma oportunidade desperdiçada.
Mesmo que falte essa profundidade em relação aos humanos, a técnica do filme permanece de altíssima qualidade e com elementos visuais bastante marcados que conseguem trazer um pouco de equilíbrio à obra. Dos detalhes de todos os personagens terem alguma parte do figurino vermelho até a fotografia espelhada diminuindo as diferenças entre os irmãos na última parte, há vários detalhes que ajudam a compreender um pouco melhor a situação. Ainda assim, não é uma profundidade que consiga trazer o tempero que parece faltar ao longa.
Ainda que não seja um filme desagradável de assistir, percebe-se a sua falta de uma mensagem clara e aprofundada, parecendo mais um exercício cênico do que um filme bem acabado e ganhador de uma das grandes premiações do cinema mundial.




