Apolo (Brasil, 2025)
Título Original: Apolo
Direção: Tainá Müller e Isis Broken
Roteiro: Tainá Müller, Tatiana Lohmann, Isis Broken, Lourenzo Duvale
Duração: 82 min (1h 22min)
Distribuição: Biônica Filmes
Existem algumas situações da vida real que são bastante únicas, e gravar documentários para discutir sobre elas e divulgá-las é uma ferramenta bastante importante dentro de lutas políticas ali inclusas. Em Apolo, por exemplo, há uma gravidez de um casal trans, algo que ainda é incomum na sociedade e que, nem por isso, merece menos uma ampla discussão. Desde assuntos como as violências obstétricas (e até antes do parto) até os preconceitos mais gerais, somos convidados a acompanhar toda a trajetória do casal na gestação de seu filho, e com isso aprendemos ainda mais sobre o amor e todas as suas possibilidades.

A obra mantém uma estrutura bem clássica de documentário, com a introdução das personagens Isis Broken e Lourenzo Duvale seguida pela explicação de porque acompanhá-los: Lourenzo está grávido e passa por várias situações complicadas em relação ao SUS relacionadas à transfobia. São misturadas imagens feitas com câmeras e celulares de situações passadas no cotidiano com algumas imagens feitas do casal em estúdio, exaltando a sua beleza e sua conexão. Com isso, vamos acompanhando a costura da história incomum e interessantíssima.
Para pessoas que circulam em meios mais democráticos e liberais, a obra é um grande soco no estômago ao relembrar como o Brasil segue liderando os rankings internacionais como o país que mais mata pessoas trans e travestis. A quantidade de violências que vemos nas telas é desesperadora, ainda que o filme tente se manter em um tom otimista. Mas o lembrete de que algumas existências precisam lutar o tempo inteiro apenas para conseguir sobreviver é alarmante, ainda que bastante necessário.
A melhor escolha da obra é a de manter esse tom de proximidade, com seus personagens conscientes das câmeras, mas permitindo que o público entre na sua rotina. De momentos difíceis, como o da decisão de se mudar de estado, até os pormenores dos carinhos do dia-a-dia, isso faz com que o público crie empatia com as suas trajetórias. Em um dos momentos mais delicados do filme, fala-se sobre a possibilidade que pessoas trans têm em escolher os seus próprios nomes, algo que a maioria da população não tem. Assim, entender como a escolha de Apolo é feita, com o deus do panteão grego sendo colocado como o filho tão esperado desse casal, torna a situação ainda mais emocionante.
Assim, por mais que o filme siga moldes mais tradicionais, toda a sua temática o torna bastante único e permite um acesso maior a uma realidade que poucas pessoas viverão. O cinema é utilizado como uma ferramenta política inteligente, sem esquecer que para tal é necessário, antes de tudo, fazer também um bom filme.




