Apresentando os Ricardos (Aaron Sorkin, 2021)

É perceptível que nos últimos anos a quantidade de personagens históricas estadunidenses que passaram por uma revisão hollywoodiana têm crescido – de Judy Garland em Judy a Harriet Tubman em Harriet – principalmente através das cinebiografias. Esta tendência é ainda reafirmada por outras mídias, seja o podcast You Must Remember This, que revive algumas mulheres esquecidas ou ocultadas da história do cinema americano, ou em séries como A Vida e a História de Madam C.J. Walker, que conta a história da primeira empreendedora milionária negra do país.

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n Assim, um dos maiores ícones da televisão, Lucille Ball, conhecida pelo programa I Love Lucy, ganhou a sua adaptação cinematográfica. Com roteiro e direção de Aaron Sorkin, já indicado diversas vezes ao Oscar, chegou à Amazon Prime Video Apresentando os Ricardos, que representa a vida da atriz a partir de sua pior semana: ao mesmo tempo em que é acusada pela mídia de ser comunista em plena “Caça às Bruxas”, percebe seu casamento se desgastando e, além de tudo, precisa gravar o seu programa.

Em um estilo já conhecido tanto do diretor quanto de cinebiografias, utiliza-se muito o que está ocorrendo em cena para justificar alguns flashbacks, tornando o filme um tanto enfadonho. Há pouquíssima ousadia no projeto, seja através de sua fotografia e montagem que emulam a invisibilidade, até a trilha sonora que apenas acompanha o ritmo das cenas. O grande foco acaba sendo a atuação de Nicole Kidman, que apresenta um trabalho realmente incrível, seja através da emulação de Lucille e de sua capacidade de criar humor físico ou simplesmente pela representação da mulher em crise, ao tentar equilibrar suas necessidades e trabalho ao que lhe é exigido pelos colegas e marido. Nesse sentido, há uma representação poderosa de uma pessoa extremamente capaz e ética, que condiz com os ecos da atriz que sobreviveram ao tempo.

Ainda em questões de atuação, é claro que Javier Bardem consegue dar graça e simpatia ao seu marido, Desi Arnaz, mas é completamente incompreensível que um ator espanhol tenha sido escalado para representar um cubano, ainda mais ao se considerar a quantidade de excelentes profissionais que o continente possui. Há ainda um reforço da displicência com a história do país, com as referências à Revolução Cubana nos anos 1940, sendo que a mesma só ocorreu mais de duas décadas depois. Acrescenta-se a isso o estereótipo de homem latino que não é capaz de controlar seus impulsos e apesar da boa atuação, o papel extremamente estereotipado não se sustenta.

O filme acaba se tornando uma espécie de mais do mesmo, adicionando apenas um pouco da vida da atriz como curiosidade. O brilhantismo de Aaron Sorkin em alguns de seus roteiros anteriores, que apresentam diálogos mais afiados e um ritmo mais intenso não pode ser encontrado na obra, e o fato de que ele tenha se tornado uma obra com três indicações a uma das maiores premiações do cinema é apenas mais um reforço de que os favoritismos continuam sendo uma prática bastante comum na Academia.

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