Crítica | 14º Olhar de Cinema | Glória e Liberdade

Glória e Liberdade (Brasil, 2025)

Título Original: Glória e Liberdade
Direção: Letícia Simões
Roteiro: Letícia Simões e Pablo Nóbrega
Elenco principal: Larissa Góes, Iara Campos, Odair Soares Ammom, Yumo Apurinã, Armando Praça, Mateus Honori e Matheus Franklin
Duração: 73 minutos

A escolha da animação como linguagem para um longa-metragem abre uma infinidade de possibilidades, ao mesmo tempo em que conta com seus próprios desafios técnicos bastante complexos. Como toda escolha que tem seus ônus e bônus, ao contar uma história de ficção científica sobre um futuro do Brasil nos anos 2050, talvez essa fosse uma das poucas linguagens que poderia transmitir o visual que Glória e Liberdade propõe. Por outro lado, mesmo com essa liberdade artística, o projeto foi bastante complexo de realizar e acabou sendo feito ao longo de dez anos.

Somos transportados a esse novo cenário fictício no qual o Brasil passou por diversas revoluções e acabou se subdividindo entre diversos novos países. Seguimos o olhar da protagonista e jovem cineasta Azul, que sai da República da Bahia e visita três desses novos territórios em busca de uma solução conciliadora para reunir os países. Então, junto com ela, conhecemos a nação indígena Taua Sikusaua Kato, a República de Caxias (antigos Ceará, Maranhão e Piauí) e o Reino de Pernambuco (antigos Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas).

É perceptível a atenção que a cineasta teve aos detalhes não apenas na construção imagética de cada um desses espaços, mas também no que tange a história contada por cada um dos personagens. Temos desde uma união perfeita entre homem e natureza na Nação Indígena até uma situação completamente cyberpunk no Reino de Pernambuco justificados através dessa reinvenção histórica criada para a obra. E, mais do que apenas ouvirmos sobre esses locais, temos uma bela animação sendo colocada para compreendermos o seu funcionamento de maneira tangível.

Só que ao mesmo tempo que temos esse ótimo exercício criativo, também temos a sensação de que o roteiro do filme tenta explicar excessivamente o que está acontecendo, sem permitir ao espectador um momento de reflexão e absorção desses espaços que ele mesmo constrói. Diversas vezes temos a mesma coisa que está se passando na tela sendo dita nominalmente pelos personagens, em uma redundância que não faz sentido com o clima mais adulto apresentado. O recurso de usar o pensamento da personagem principal como uma voz em off ao longo de quase todo o filme é usado de maneira sufocante, realmente não permitindo esse espaço para a reflexão que é proposto pela temática. Ao seu final, quando são apresentadas novamente as mesmas informações sobre os reinos como em uma apresentação didática, tem-se a certeza que a obra não confia nos seus espectadores para compreender as informações já apresentadas.

Ainda assim, a discussão que ele incita é importante demais para ser ignorada, e ele o faz através de um viés separatista bastante inovador e que permite abordar os problemas atuais do país através de uma ficção. Através dessa diversidade de cenários propostos, nós conseguimos pensar em formas de organização alternativas e repensar nossos anos de história pregressa. Temos muitos elementos excelentes colocados em cena, mas que nem sempre conseguem ser aproveitados em todo o seu potencial.

Felizmente, a animação brasileira parece estar em um momento de bastante crescimento. Que ela seja muito prolífica e possa gerar cada vez mais narrativas diferentes e inventivas.

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