Crítica | 14º Olhar de Cinema | Medidas Para Um Funeral

Medidas Para um Funeral (Canadá, 2024)

Título Original: Measures For a Funeral
Direção: Sofia Bohdanowicz
Roteiro: Sofia Bohdanowicz e Deragh Campbell
Elenco Principal: Deragh Campbell, Melanie Scheiner, María Dueñas, Mary Margaret O’Hara, Maxim Gaudette e Eileen Davies
Duração: 142 minutos

Após uma onda de filmes que retratam a vida de pessoas relacionadas a orquestras, como Maestro (2023) e Tár (2022), chega o momento de um filme relacionado à pesquisa acadêmica sobre música. Acompanhamos a vida de Audrey (Deragh Campbell), uma estudiosa sobre o trabalho da violonista canadense Kathleen Parlow.

Já nas primeiras cenas do filme, percebemos que parte da sua obsessão com a violonista vem de um momento de fuga da realidade, dado que sua mãe está em uma situação de saúde frágil. Conhecendo um pouco mais sobre a personagem, entendemos também que ela mesma nunca teve uma carreira como musicista por desincentivo da mãe, que parou de tocar violino ao ter a filha. Então, a busca pela vida dessa mulher que conseguiu ter um ápice de carreira e depois caiu no esquecimento se torna ainda mais importante para ela.

O que o filme faz é um mergulho profundo nessa personagem que está passando por um processo de amadurecimento atrelado ao luto de ver sua mãe acamada. E é nesse momento que o filme perde parte de seu brilho, pois a atuação de Deragh Campbell é difícil de compreender. Por vezes infantilizada, sempre com um linguajar super intelectualoide, e chegando ao ápice de emoção de forma bastante explosiva, por mais que todo o texto e subtexto estejam presentes no texto do longa, o filme não consegue entregar a emoção necessária. Muitas vezes ficamos mais confusos com as reações da personagem ou tentando compreender uma fala muito rebuscada do que, de fato, nos relacionando com a sua crise.

Assim, por mais que a obra exiba o seu processo de busca por informações e até de formas novas de se relacionar com os sons, o mais importante, que seria esse estudo de uma personagem acadêmica em crise, acaba parecendo sempre insatisfatório. Entre seus altos e baixos, é interessante perceber que mesmo assim o filme tem alguns momentos interessantes. A sequência que se passa na igreja, por exemplo, tem um leve flerte com o sobrenatural que modifica um pouco o tom da obra, criando camadas e fazendo com que o filme se torne mais memorável para quem o assiste. Há também uma escolha impecável de locações no sentido de trazer a arquitetura dos espaços como um reflexo do interior da personagem – como o Barbican londrino, equivalente ao nosso Copan, que aparece em um momento em que a personagem deseja sumir na multidão, seguido pelo interior profundo da Inglaterra, onde ela finalmente consegue conversar com alguém sobre tudo que está passando. As peculiaridades das estruturas também são bem capturadas em câmera, criando quadros lindíssimos que brincam com a simetria e o equilíbrio.

Assim, o filme parece ser dirigido com o mesmo rigor intelectual que a personagem possui. Apesar de ser uma escolha igualmente válida, ela torna a obra mais distante de seu público, e consequentemente, ainda mais com a longa duração, mais difícil de ser sentido e assistido. Mais do que isso, ele talvez também só ganhe relevância quanto mais se pensa nele, o que pode ser uma qualidade caso o espectador siga com ele na cabeça, ou um problema caso ele seja esquecido assim que acabar a sessão.

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