Crítica | 48a Mostra | Dahomey

Dahomey (Benin, França e Senegal, 2024)

Título Original: Dahomey

Direção: Mati Diop

Roteiro: Mati Diop e Malkenzy Orcel

Elenco principal: Gildas Adannou, Morias Agbessi, Maryline Agbossi, Habib Ahandessi, Didier Donatien Alihonou e Imelda Batamoussi

Duração: 68 minutos

Como brasileira, em uma viagem a Portugal, foi inevitável refletir sobre o ouro existente em suas igrejas e o quanto disso veio da exploração colonial do Brasil, com mão de obra escravizada e cujos frutos materiais foram quase totalmente refletidos para a Coroa Portuguesa. Do mesmo modo, indo a um museu britânico é possível encontrar partes de elementos egípcios, e todos esses saques culturalmente aceitos naquele momento por conta do colonialismo ou neocolonialismo permanecem como peças expostas apenas para mostrar o tamanho e influência que aqueles países já tiveram.

Imagem

Felizmente, essas visões de mundo estão, aos poucos, sendo alteradas, com movimentos tanto de retornar obras de arte e itens religiosos para seus países de origem quanto de compreender a cultura de maneira mais ampla. Se no ano passado pude assistir Homecoming no Festival de Toronto, que trata do retorno de itens sagrados para a comunidade Sámi, este ano surge Dahomey, mostrando o processo semelhante de retorno de 26 artefatos para sua terra original, em Benin.

Se as ideias são parecidas, os filmes não poderiam ser mais diferentes. Homecoming foca em uma narrativa individual, de uma mulher que está documentando o seu processo de recuperar um elemento que ainda é muito sagrado para ela e que tem significado especial para a sua família. Dahomey explora um aspecto muito mais coletivo e político do assunto. Ele busca a compreensão desse movimento de retorno da França para Benin tanto como manobra pós-colonial, quanto o recebimento do país dessas peças cujo significado já é esquecido por parte da população após décadas fora do país. Discute-se o significado das obras na sociedade atual, assim como quais serão as pessoas que terão acesso a elas, e até mesmo o ato de mantê-los em um museu em Abomey, sendo que a população do país não tem o hábito de visitar museus.

O filme se divide em três sub-narrativas. A dos franceses, que estão removendo essas obras do museu em um projeto que mistura um movimento bastante industrial com a delicadeza necessária para que os objetos cheguem bem ao seu destino, uma discussão e a exibição das peças na sua chegada de volta ao lar, e os pensamentos do Número 26, uma representação do Rei Ghézo. Ouvimos seus pensamentos sobre todo o processo, ajudando a compreender melhor os impactos graves que aconteceram na cultura norte-africana por conta da Europa. Apesar de todas as partes serem igualmente interessantes para o filme, esta é a mais inventiva, conseguindo sair da estrutura mais óbvia documental e partindo para algo mais artístico e poético.

Dahomey é um filme essencial para o século XXI, tanto nas discussões sobre reapropriações das nossas próprias culturas, quanto pela mistura de linguagens e cortes rápidos que é tão característica desse momento no mundo, onde telas se sobrepõem e pouco pensamos nos nossos arredores.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima