O Som da Queda (Alemanha, 2025)
Título Original: In die Sonne schauen
Direção: Mascha Schilinski
Roteiro: Louise Peter, Mascha Schilinski
Elenco principal: Hanna Heckt, Lena Urzendowsky, Susanne Wuest, Luise Heyer, Lea Drinda e Laeni Geisler
Duração: 2h 29min
O Som da Queda: longa alemão é retrato lírico e desbotado sobre a dor feminina
Assistir a O Som da Queda é um verdadeiro sacrifício. Daqueles em que o espectador se afunda na cadeira de tanto tédio e se pergunta diversas vezes quanto tempo falta para acabar. Chegar ao fim dos cento e cinquenta minutos de filme, portanto, é uma prova de resistência, uma tentativa de encontrar algum sentido para que uma obra tão vazia tenha sido ovacionada em Cannes 2025 com o Prêmio do Júri.

O longa acompanha quatro jovens: Alma (Hanna Heckt), Erika (Lea Drinda), Angelika (Lena Urzendowsky), e Lenka (Laeni Geiseler), que viveram em uma mesma fazenda na Alemanha em épocas diferentes. Apesar de pertencerem a contextos familiares distintos, compartilham as mesmas angústias sociais e crises na relação maternal, que as conduzem a um destino inevitável.
É difícil descrever a narrativa de O Som da Queda porque é igualmente difícil compreendê-la e entender do que exatamente ela se trata. Procurando romper com a linearidade e segmentação das jornadas individuais, a montagem de Evelyn Rack e Billie Mind intercala as cenas de forma tão homogênea que o fim de uma e o início da outra se tornam indistintos.
A escolha parece refletir a intenção de Mascha Schilinski, diretora e roteirista do longa, de entrelaçar a vida das personagens para destacar o que elas têm em comum. Contudo, acaba também por anular suas particularidades. Exceto pela narrativa de Alma, que se destaca por um contexto histórico mais definido, há vários momentos em que a ambiguidade toma conta e Erika, Angelika e Lenka se confundem.
Com tramas suprimidas em nome de uma liberdade conceitual, o roteiro de Schilinski, coescrito por Louise Peter, também se torna obtuso. Como garotas em formação que um dia se tornarão mulheres, elas se espelham em suas mães, mas nelas encontram apenas figuras infelizes, que abdicaram de sua individualidade pelos filhos e pela vida doméstica, ou que tiveram fins trágicos.
A crise identitária, somada aos abusos e traumas emocionais que presenciam em amigas e criadas, explica por que tantas surgem com o semblante borrado nas fotografias. Elas nunca parecem plenamente presentes e constantemente desejam a morte. Pensamentos existenciais — como ser atropelada por um trator ou subir em uma árvore e de repente desaparecer — são recorrentes.
O lirismo visual e a contemplação ambiental de Schilinski lembram o estilo de Sofia Coppola, outra cineasta que aborda o tédio feminino no cinema. O olhar poético sobre as pequenas opressões sofridas pelo corpo e pela psique femininos se traduz em tons esmaecidos e texturas suaves — uma escolha estética e temática que ambas compartilham.
A diferença é que obras de Coppola, como As Virgens Suicidas e O Estranho que Nós Amamos, são intimistas sem se tornarem inacessíveis, algo que Schilinski não consegue reproduzir. Ela conduz o público por uma sucessão de cenas ocas que tornam a experiência quase em vão quando os créditos finais sobem.
O distanciamento emocional é tamanho que parece nos manter a quilômetros da tela. O Som da Queda acaba se tornando apenas um eco, o som de um vazio que tenta soar profundo, mas se desfaz antes de chegar até nós.
Filme assistido na 49ª Mostra Internacional de CInema em São Paulo




