Crítica | 50º TIFF | Modern Whore

Modern Whore (Canadá, 2025)


Título Original: Modern Whore
Direção: Nicole Bazuin
Roteiro: Nicole Bazuin, Andrea Werhun
Elenco principal: Andrea Werhun, Mylene Carino, Claudio Musso, Francesco De Francesco, Casey Fleming, Paul Thomas Forrest, Tom Finn, Quinton Neufeldt
Duração: 1h 20min (80 min)

Quando pensamos na última temporada de premiações, talvez um dos filmes que mais tenha criado controvérsias foi Anora (2025). Isso ocorreu justamente por retratar um universo de trabalhadoras sexuais, com a moralidade das pessoas parecendo extremamente atacada pela personagem-título interpretada por Mikey Madison. Não é à toa que se nota uma semelhança com a obra de Nicole Bazuin, pautada pelo livro de memórias homônimo escrito pela atriz e também roteirista Andrea Werhun: ela foi uma das profissionais que deu consultoria a Sean Baker para a criação do roteiro.

Nesta obra, o que mais chama a atenção do público é a linguagem. Desde o momento em que os créditos se iniciam, com uma paleta de cores, música e cabelo que trazem uma sensação retro futurista, evocando Mulheres Perfeitas (1975), percebe-se que ele não trará apenas o que se espera de um documentário sobre a vida de uma mulher. Ao contrário, ele mistura referências que passam em um piscar de olhos de Audrey Hepburn para uma câmera do ponto de vista de um ânus. Talvez por uma identificação com o modo que a obra se permite divagar e se distrair com seus elementos, foi muito fácil ser levada por sua narrativa flexível e divertida.

A história contada é a da co roteirista Andrea Werhun principalmente no que diz respeito aos seus trabalhos ligados ao sexo na última década. Embora ele apresente essa flexibilidade narrativa, o tema é sempre tratado com muita seriedade. Ainda que exista muito humor, Andrea se mostra muito consciente de elementos que vão de recortes de gênero e raça até os estigmas pessoais e sociais de sua profissão. Ela se coloca no centro desta história (afinal, é a sua própria história) sem invisibilizar as diversas existências neste mesmo universo que ela deseja retratar.

No entanto, é inegável que este é um recorte muito específico do que é ser uma trabalhadora sexual. Por mais que se perceba esse esforço em englobar mais do que a sua própria existência, existem possibilidades que claramente nem se passam pela sua mente, como as pessoas forçadas a tais trabalhos. O mesmo se pode dizer em relação à pornografia e a sua crescente de violência nos últimos anos. Mesmo que uma obra só não seja capaz de englobar todas as questões relacionadas ao assunto, um leve aceno em relação a estes temas poderia tornar o filme um pouco mais profundo.

Essa mistura entre sátira, autoficção e entrevistas é o que dá à obra uma profundidade que desafia os fatos que ela mesma propõe. Em um primeiro momento, ela comenta sobre a estereotipação de trabalhadoras sexuais sempre como vítimas ou vilãs de histórias, e percebe-se um esforço em quebrar este padrão e contar uma história de uma personagem complexa, com qualidades e defeitos, mas que se recusa a cair em qualquer uma das duas categorias. Ela acaba criando em tela essa nova possibilidade de representação, o que vem em um tom muito alinhado aos discursos mais recentes de pluralidade em representações femininas.

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