The Testament of Ann Lee (EUA e Reino Unido, 2025)
Título Original: The Testament of Ann Lee
Direção: Mona Fastvold
Roteiro: Mona Fastvold e Brady Corbet
Elenco principal: Amanda Seyfried, Thomasin McKenzie, Lewis Pullman, Stacy Martin, Tim Blake Nelson, Christopher Abbott e Matthew Beard
Duração: 137 minutos (2h17min)
Este será um ano bastante competitivo para as mulheres do audiovisual internacional que buscam alguma premiação, principalmente quando falamos sobre as atuações principais. Se Jessie Buckley está espetacular em Hamnet (2025), é inegável que Amanda Seyfried parece estar em um papel feito para ela em The Testament of Ann Lee.

O surpreendente musical sobre a primeira líder religiosa dos Shakers traz, assim como no seu irmão espiritual O Brutalista (2025), uma releitura sobre algumas das pessoas que ajudaram a fundar os EUA. Se no primeiro temos a mistura de genialidade, preconceito e exploração, aqui temos a mistura entre fé, cultos e, bem, exploração. Acompanhamos a vida de Ann Lee desde que ela era uma criança na Inglaterra, dividida entre uma devoção religiosa precoce e as mazelas de ser uma criança no século XVIII até o final da sua vida, como líder religiosa nos EUA. Para quem quiser acusar o texto de dar spoilers, esse filme é inspirado em uma história real, então sem acusações de spoilers para fatos históricos com mais de 300 anos.
Talvez seja importante explicar algo sobre os Shakers que é apresentado organicamente no filme, mas que é um fato desconhecido aos espectadores brasileiros, por ser um pormenor da cultura estadunidense. Sua origem está nos Quackers, igrejas protestantes que revisitaram valores como a necessidade de pacifismo, e individualidade em como sentir a fé e se relacionar com Deus. Os Shakers, religião iniciada a partir de Ann Lee, tinham questões particulares como a necessidade do celibato pela crença de que todo sexo seria um ato libidinoso e mal visto por Deus, e questões como a igualdade entre homens e mulheres. Seu nome foi dado devido às pregações, nas quais as pessoas se sacudiram entregues à fé (shake, em inglês, significa sacudir).
Partindo de uma fé cristã e passando por uma série de experiências traumáticas em sua vida, a obra nos ajuda a compreender a pessoa que foi Ann Lee. De forma interessante, ele já começa com uma energia extremamente alta com os créditos iniciais sendo uma cena musical, com uma identidade visual que remete ao folk horror. A obra abandona o horror que não seja existencial, dada a vida dura da mulher que perde quatro filhos, luta pela sua religião e atravessa o oceano na esperança de poder evangelizar nas novas terras que estão se tornando independentes. No entanto, temos a sensação do folk tanto através dos números musicais quanto da fotografia, principalmente a partir da chegada nos EUA.
O diretor de fotografia William Rexer é uma escolha bastante acertada para a obra, dado que a maior dificuldade da obra é manter o ritmo e continuidade dos números musicais, inspirados nas pregações religiosas. E como esses números são realmente o ponto mais alto do filme, ter alguém acostumado a este universo, tendo participado desde clipe da Beyoncé até a série musical The Get Down faz diferença. A soma entre isso, uma excelente coreografia, uma edição precisa e a trilha sonora totalmente imersiva, que sabe colocar os elementos dissonantes à favor da narrativa do filme, fazem com que a obra seja memorável.
Infelizmente, apesar do filme começar com uma energia altíssima e muita força, ela vai se perdendo conforme o filme caminha. Aos poucos, por conta do andamento da história real e da escolha em contá-la por inteiro e de maneira linear, sentimos uma queda expressiva no andamento do longa-metragem. Ainda que os números musicais sigam magníficos, suas partes não cantadas se tornam mais monótonas, e a ausência de bons personagens com exceção à protagonista apenas ajuda nessa estagnação. Suas mais de duas horas começam a ser sentidas justamente por conta dessa queda.
Ainda que tenha um visual lindo e excelentes momentos, a dificuldade com The Testament of Ann Lee está em manter a coesão e ritmo como filme para além da ótima performance de Seyfried.