Mickey 17 (Coreia do Sul e EUA, 2025)
Título Original: Mickey 17
Direção: Bong Joon-ho
Roteiro: Bong Joon-ho baseado na obra de Edward Ashton
Elenco principal: Robert Pattinson, Steven Yeun, Naomi Ackie, Toni Collette, Mark Ruffalo e Daniel Henshall
Duração: 139 minutos
Dirigir qualquer coisa depois do fenômeno cultural que foi Parasita (2019) deve ser ao mesmo tempo uma benção e uma desgraça. Isso porque, ao mesmo tempo em que se tem acesso a grandes orçamentos e benefícios como o do corte final, as expectativas sobre a sua obra mais do que triplicam. Desse modo, ao decidir fazer de seu próximo filme uma ficção científica de comédia, Bong Joon-ho talvez até traga alguns novos espectadores para o cinema de gênero, mas dificilmente vai conseguir fazê-los amar o filme.

O clima do filme já é explicado em suas cenas iniciais, que explicam o problema de Mickey 17 (Robert Pattinson) em um longo flashback. Ele nos apresenta todo o universo no qual a realidade do filme é ancorada, assim como a tecnologia de impressão de pessoas que permite que, todas as vezes que Mickey morre, seja impressa uma nova versão sua. O conflito vem, então, do fato de que em uma das vezes que acham que ele morreu, ele não morreu. Assim, temos Mickey 17 e Mickey 18 existindo ao mesmo tempo, existe um problema sobre qual memórias utilizar, e um deles terá que morrer.
Não há dúvidas que Bong Joon-ho é um diretor extraordinário, e neste filme ele utiliza as mais diversas referências do gênero da ficção científica para gerar algo novo e divertido. Há momentos que lembram Starship Troopers (1997) e seu humor quase juvenil, ao mesmo tempo em também há elementos do complexo A Chegada (2016). Mas felizmente, ao invés disso gerar uma colcha de retalhos sem sentido, é criado algo original, tanto pelo visual incrível quanto pelo talento do diretor e roteirista em criar personagens tipificados. Ele inclusive aproveita esses tipos, como o do governador populista Kenneth Marshall (Mark Ruffalo), para criar camadas de humor e de contradições, como ao colocá-lo como inseguro e dependente da esposa.
Ainda assim, quem mais brilha no filme é Robert Pattinson, que precisa diversas vezes contracenar consigo mesmo na medida em que Mickey 17 e Mickey 18 se encontram. Além da clara mudança de personalidade já proposta no roteiro, o ator conseguiu trazer corporalidade para essa mudança de papel, além de um trabalho de voz aguçado e por vezes assustador. Mesmo havendo um gigante elenco cheio de estrelas, a atuação que fica na memória por dias a fio é a de Pattinson.
O visual criado para a obra também é bem afiado, juntando uma fotografia incrível com um universo caricato imaginado cheio de detalhes e nuances. Para um fã de ficção científica, é incrível perceber a quantidade de elementos adicionados, desde o design da nave espacial até o processo de impressão de pessoas. Não há dúvidas de que esses elementos dão mais dimensão ao filme e tornam toda a experiência mais crível (dentro da realidade criada pelo filme, obviamente).
Há também uma rima temática com dois filmes do mesmo diretor, Expresso do Amanhã (2013) e Okja (2017), com o retrato do ser humano como o que há de pior no mundo, mesmo dentro de cenários fantásticos ou futuristas. Aliás, essa é uma máxima que em graus diferentes está presente em todos os seus filmes, com apenas alguns arcos redimindo alguns de seus personagens, geralmente movidos por um forte sentimento como o amor ou a amizade.
Ainda que, pelo modo que a narrativa é construída, o filme se torne um pouco alongado em seu segundo ato, ele certamente irá divertir quem for com a mente aberta para as salas de cinema. Porém, para quem espera um novo Parasita, a surpresa infelizmente será negativa.