Toxic (Lituânia, 2024)
Título Original: Akiplėša
Direção: Saule Bliuvaite
Roteiro: Saule Bliuvaite
Elenco principal: Egle Gabrenaite, Vesta Matulyte, Ieva Rupeikaite e Giedrus Savickas
Duração: 99 minutos
Algo com que quase todas as culturas mundiais irão concordar é com a afirmação de que a adolescência é um período difícil da vida. O que a diretora lituânia Saule Bliuvaite consegue é transformar uma experiência muito específica em uma referência para as pressões de ser uma garota passando por essa fase.

A primeira cena já deixa clara a situação de hostilidade e inimizade feminina encontradas. Enquanto uma menina com uma dificuldade locomotiva sai da piscina e não encontra suas roupas no armário do colégio, as outras garotas riem, fingem desconhecimento do ocorrido e zombam de sua deficiência. Apesar de um pouco exagerada, esta é a realidade de Marija e Kristina, zombada e zombadora que aos poucos vão se tornando amigas.
O longa-metragem deixa claro que nenhuma das duas tem uma vida de privilégios. Ou melhor, deixa claro que aquela pequena cidade industrial não tem muitos privilégios, sendo mais um centro de mão-de-obra do que um local com uma boa qualidade de vida para os cidadãos. Ainda que essa escolha reflita um certo estereótipo internacional sobre o país, ela se relaciona com a história de vida pessoal da diretora-roteirista. E ela nos leva a este lugar no qual é necessário lutar para sobreviver e tentar sair daquela cidade.
É o que as duas garotas fazem em uma escola para modelos que promete ajudar meninas a encontrar seu lugar em meio a passarelas internacionais. Mas junto com essa possibilidade, vem toda uma nova gama de pressões estéticas que assola a vida das garotas. E mesmo com essa possibilidade, elas não percebem que têm ao seu lado um exemplo de alguém que teria dado certo: uma garota grávida, de volta à cidade após passar um tempo em Nova Iorque.
O que acaba acontecendo é um grande ensaio sobre este momento específico da vida e a necessidade de amizades para sobreviver em um mundo que nem sempre vai ser gentil com você. Dentro dessa amizade, há suas mazelas e machucados, mas parece haver um ponto central para a sobrevivência. E esta máxima é o que ancora o longa-metragem enquanto vemos as relações capitalistas e machistas se desenvolvendo e aos poucos tirando qualquer traço de infantilidade das protagonistas.
Apesar de contar uma história potente e importante, o filme tem altos e baixos no que diz respeito ao refinamento audiovisual. Ainda que tenham cenas como as que mostram todas as garotas em fila, treinando seu andar, que transparecem melhor a sensação de trabalho que não leva a lugar nenhum, essa qualidade audiovisual não é estável ao longo da obra. Dessa linguagem estilizada, ele dá saltos diretos para o quase documental, e essas mudanças repentinas causam confusão nos espectadores.
O resultado é um filme com ótimos momentos, mas que se perde bastante na própria narrativa e forma. Como um primeiro filme, ele funciona bem e acima da média de diretores estreantes, mas ainda há muito espaço de possibilidades para afinar, principalmente, a forma.