Crítica | Amores Materialistas

Amores Materialistas (Estados Unidos e Finlândia, 2025)

Título Original: Materialists
Direção: Celine Song
Roteiro: Celine Song
Elenco principal: Dakota Johnson, Pedro Pascal, Chris Evans, Zoë Winters, Marin Ireland e Dasha Nekrasova
Duração: 116 minutos
Distribuição: Sony Pictures

Amores Materialistas abre mão de mergulhar nas convenções que pretende evocar para construir algo que dialogue com a tradição das comédias românticas, mesmo que fosse apenas para subvertê-las. É curioso notar como o filme parece consciente de suas referências desde os gestos, as pausas, até as situações potencialmente cômicas ou românticas mas, ao mesmo tempo, se recusa a tratá-las como dignas de atenção real. O que poderia ser uma homenagem aos clichês do gênero acaba soando apenas como relutância em se comprometer com eles.

De certa maneira, a diretora conduz sua narrativa com a crença de que basta lançar perguntas sobre relações, desejo e consumo para compor um retrato contemporâneo. Há, sim, momentos em que a mise-en-scène encontra ecos interessantes nesse mundo de afetos protocolados, onde as conexões se medem mais como transações do que como impulsos passionais. Mas são lampejos que não encontram ressonância maior, pois o filme hesita em articular respostas ou ao menos sugerir direções que humanizem seus personagens.

Essa escolha (ou ausência dela?) repercute diretamente na figura da protagonista vivida por Dakota Johnson, cuja entrega fria poderia ser defendida como coerente com o universo urbano, melancólico e cínico do roteiro. Contudo, o resultado soa mais como falta de pulsação dramática: não há sedução, nem humor, nem o encanto que tradicionalmente justificariam o investimento emocional do público numa rom-com, mesmo que esta quisesse ser “anti-romântica”.

Nesse sentido, Amores Materialistas parece apostar numa estética do vazio: enquadramentos limpos, diálogos pausados, silêncios carregados de intenções que nunca se cumprem. O problema é que esse vácuo não se converte em densidade. A diretora cria espaços onde o espectador pode projetar suas próprias inquietações, mas não oferece matéria viva o bastante para que essas projeções ganhem corpo.

É sintomático que, mesmo quando surge um interesse romântico, o filme não se permita explorá-lo de fato. O desejo, elemento motor do gênero que evoca, surge domesticado, transformado em algoritmo social que mais interessa pelo cálculo do que pela vertigem. Até o “triângulo amoroso” que o marketing tentou vender se revela pálido, pois seus vértices masculinos são tão esquemáticos quanto um gráfico.

Ao abdicar da entrega emocional que é a alma da comédia romântica, seja para afirmá-la ou negá-la, Song termina presa entre o gesto da pergunta e o receio de respondê-la. Sua crítica ao amor transformado em mercadoria encontra ecos, mas nunca ganha corpo. O que resta é um filme que parece temer tanto a doçura quanto a dor, abraçando uma melancolia elegante, porém vazia, onde até as boas ideias morrem antes de florescer.

Amores Materialistas poderia ter sido uma reflexão sensível sobre o que resta do romance em tempos de capital e performance, mas termina como um gesto inacabado, que observa de longe as promessas do gênero sem jamais ousar senti-las de verdade.

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