Crítica | Animais Perigosos

Animais Perigosos (Austrália, EUA e Canadá, 2025)

Título Original: Dangerous Animals
Direção: Sean Byrne
Roteiro: Nick Lepard
Elenco principal: Hassie Harrison, Jai Courtney, Josh Heuston, Ella Newton, Liam Greinke e Rob Carlton
Duração: 98 minutos (1h38min)
Distribuição: Diamond Films Brasil

Fun fact: esse que vos escreve é um aficionado por filmes de tubarões. E como um grande apreciador dessa sub-sub-vertente de filmes, afirmo sem medo de errar que uma das imagens mais emblemáticas do “gênero” aconteceu quando Jaume Collet-Serra fez uma destemida Blake Lively derrotar um tubarão em pleno fundo do mar. Sean Byrne não é Collet-Serra e Animais Perigosos não e Águas Rasas, mas as conversas entre os dois filmes são bastante justas.

Até porque os dois diretores, em seus respectivos filmes, não estão nem um pouco interessados em reinventar a roda, ao mesmo tempo que sabem que permanecer na mesmice é burrice. Mas vamos nos manter em Animais Perigosos aqui, e como esse filme causou uma certa empolgação no Festival de Cannes, talvez ainda um dos mais conservadores do mundo sobre o que faz realmente do cinema uma arte e o que é diferente disso. Afinal, este não é só um filme de tubarões, mas um exploitation assumido com direito a um serial killer aficionado por esses animais e em ver pessoas sucumbirem às suas presas pelo puro e bel-prazer.

Nisso, Animais Perigosos nos ganha justamente na subversão de tornar estes animais que, no nosso imaginário, são predadores implacáveis, em muito mais um elemento que irá fazer parte das manias sádicas de Tucker (um parrudo Jai Courtney) que atrai turistas e os leva para a morte no meio do mar através de seu negócio de passeios de barco. Nessa empreitada perigosa onde a mocinha Zephyr (Hassie Harrison, carismática e muito bem preparada fisicamente) precisará escapar das garras desse predador humano em alto mar, o filme nos pega bastante de surpresa ao ir levemente além da banalização de sua própria proposta sanguinolenta para tecer alguns comentários muito bem empregados sobre a espetacularização das atividades econômicas para turistas, num timing apropriadíssimo pós boom do remake de Lilo & Stitch.

E é nessa chave irônica que o Byrne opera não somente as mil e umas tentativas de fuga da protagonista (e o negócio é tão lá em cima que uma das atitudes mais derradeiras da moça realmente me fez virar o rosto para não olhar), mas na crueldade doentia desse antagonista.Ainda que em meio ao seu sadismo repulsivo, ele exala um sex appeal que desafia nossa própria ojeriza a esse personagem e suas atitudes, o que também permite que essa ironia esteja presente moralmente na experiência do público com esse filme. Complexidade maníaca mais do que bem-vinda.

Não que, no fim das contas, o filme fuja da previsibilidade que lhe é inerente de qualquer forma. Não foge. É um filme de cartilha, onde sabemos quem irá morrer, quem irá sobreviver, e como aquilo provavelmente irá acabar. É por isso que Byrne acertadamente se preocupa muito mais com a potencialização da experiência, seja no envolvimento com aqueles personagens (o protagonista gosta de filmar a morte de suas vítimas e a câmera não foge do olhar frontal sobre isso), na presença dos tubarões muito mais como um simbolismo físico do que há de animalesco em nosso serial killer (que canta Baby Shark e late pra um cachorro, vale dizer), no humor com pitadas de crueldade, na noção da câmera de onde ela precisa estar e até onde pode ir… Sim, é um filme que se preocupa com a sua filmagem, com a sua imagem, com as suas cores, de quantos filmes de tubarão ou serial killer você pode dizer isso?

E por mais que o romancezinho também dê uma travada na narrativa, a noção do filme em saber como manter o espectador preso à sua tensão, em como nos fazer suar junto com a final girl, em como construir uma relação um pouco mais complexa do que se espera entre nós e o vilão já posiciona Animais Perigosos como um diferencial dentro dessa linha de filmes sobre monstros reais, estejam eles em água ou em terra. O ressignificar aqui ainda não é inovar, mas com certeza rende uma sessão divertida pra caramba.

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