Bicho Monstro (Brasil, 2024)
Título Original: Bicho Monstro
Direção: Germano de Oliveira
Roteiro: Germano de Oliveira, Igor Verde, Marcela Ilha Bordin
Elenco principal: Kamilly Wagner, Araci Esteves, Pascal Berten, Alex Pantera e Geraldo Souza
Duração: 1h 15 min (75 minutos)
Distribuição: Boulevard Filmes
Quando compartilhei em minhas redes que havia acabado de assistir Bicho Monstro, que saiu angariado do último Festival de Gramado com dois prêmios voltados aos longa-metragens gaúchos, um número considerável dos meus seguidores se mostraram muito fascinados e interessados pelo pôster oficial do filme. O cartaz, obra do artista visual Leo Lage e que evoca ares de Onde Vivem os Monstros (2009), de Spike Jonze, traz uma gama de detalhes, dos pequenos aos grandes, que parecem esconder algo a mais sobre o bicho-título indicado pelo filme. O que é o bicho monstro, afinal?

Essa, com certeza, é a primeira pergunta que sobe à cabeça sobre o filme de Germano de Oliveira, e é a última que ele responde. Na verdade, será que responde? Porque antes de ser um filme sobre qualquer bicho ou monstro que seja, o longa gaúcho é um filme sobre espelhos de uma mesma obsessão que nesse caso remete a uma releitura sobre o imaginário de Thiltapes, criatura mitológica inventada por imigrantes alemães. Nessa narrativa, acompanhamos a jovem Ana (Kamilly Wagner), que começa a se interessar pela entidade após vê-la numa peça de teatro, e o Botânico (Pascal Berten), que duzentos anos antes também havia se interessado pela mesma lenda e se enveredou em uma jornada pela mata gaúcha para encontrar a criatura.
Na busca por intercalar estas narrativas opostas, mas objetivamente semelhantes, a direção de Germano evoca um tom etéreo e lúdico que infecta ambos os pólos, colocando estes protagonistas de cada época num conflito fantástico com a natureza e toda sua opulência e mistério que a cerca. Germano está bem mais interessado num filme de atmosfera, que resgate o fascínio pelo que nos é desconhecido, por aquilo do qual queremos fazer parte, mesmo não pertencendo a aquele mundo. Correndo o risco de soar petulante, diria que algumas comparações com A Dama na Água (2006) não seriam nem um pouco exageradas.
Talvez o filme de Germano seja mais controlado e rígido do que o que a proposta demanda. Claro, a fotografia de Bruno Polidoro e a direção de arte de Gabriela Burck não foram agraciadas a toa, e dentro de todos os planos abertos dentro e fora da mata, contra plongées e algumas cenas mergulhadas numa semi-escuridão, Bicho Monstro talvez seja um dos filmes mais visualmente potentes do ano a chegar no circuito nacional. O filme trabalha com esmero a iminência do que pode surgir daquela floresta e de como todo um fascínio pelo desconhecido é carregado por essa tensão… mas em seus 70 e poucos minutos, chega um ponto em que Bicho Monstro se mantém nessa única nota e não mergulha em seu realismo fantástico tanto quando poderia.

A experiência, então, se mantém nesse limiar, com contornos nem sempre claros (este não é o problema), atmosfera sempre fascinante, mas presa a certa linearidade da própria proposta, mesmo com a dilatação temporal entre as obsessões de uma criança e um homem adulto. Se não se aprofunda no questionamento principal, sobre quem ou o que é o Bicho Monstro, ao menos o filme de Germano marca mais um valioso passo nesse cinema que foge do eixo Rio-SP e dialoga com o imaginário e costumes de outros Brasis pelo Brasil afora de forma puramente cinematográfica, mesmo que estacionada a partir de certo ponto.