Crítica | Cobertura 2º Festival Filmes Incríveis | Confession

Confession (Japão, 2024)
Título Original: 告白 コンフェッション
Direção: Nobuhiro Yamashita
Roteiro: Ryo Takada e Shuji Yuki baseados no mangá de Nobuyuki Fukumoto e Kaiji Kawaguchi
Elenco principal: Nishida Sayuri, Ryu Ji Yong e Tôma Ikuta
Duração: 1h e 14 min (74 min)

Baseado em mangá dos anos 1990, Confession derrapa em plot-twists forçados, atuações exageradas e banalização do feminicídio 

Há filmes cujo lançamento você absolutamente espera. Já viu várias obras anteriores do diretor, conhece todos os nomes do elenco, leu o material original adaptado pelo roteiro ou, então, simplesmente viu o material de divulgação e teve a curiosidade despertada. Contudo, há também aqueles dos quais você nunca ouviu falar. Passa pelo cinema, vê o cartaz, lê a sinopse e entra na sala.

Para esse segundo tipo, a produção tem um benefício a seu favor: a ausência de expectativas, o que deixa espaço vago para uma grata surpresa. Confession, longa-metragem japonês dirigido e roteirizado por Nobuhiro Yamashita, parecia ser parte desse grupo — e eu estava motivado a gostar dele —, mas vai na direção completamente oposta e se consagra como o pior filme de 2025 e, talvez, um dos piores que vi nos últimos anos. Com certeza, um dos suspenses mais fracos que já assisti.

A tensão trinca entre dois amigos de longa data quando eles ficam presos no meio de uma escalada durante uma nevasca. Convencido de que vai morrer, Yang (Ryu Ji-yong) faz uma revelação a Toma (Asai Keisuke) sobre um amor do passado dos dois. Contudo, Toma acaba encontrando abrigo em uma cabana e salva Yang, o que os obriga a lidar com as consequências da confissão.

As duas primeiras cenas de Confession já atropelam o ritmo de suspense — algo essencial em um bom exemplar do gênero, que precisa manter o espectador compenetrado na tela. O flashback antecede a cena-pivô da premissa de forma apressada e descarta o clímax nos minutos iniciais, dando prosseguimento a quase uma hora de perseguição dentro da cabana. O que tenta ser — e falha miseravelmente — uma ambientação claustrofóbica com apenas dois personagens se enfrentando acaba por entediar, com o exagero de ressentimento e vingança que transforma Yang em um maníaco com uma machadinha, e Toma em uma vítima ardilosa e atrapalhada.

A performance de Ryu Ji-yong, por sinal, é tenebrosa. Talvez mais perturbadora pela péssima qualidade do que pela cena em que ele quebra a própria perna ou mata toda a equipe de resgate. Ele parece ter se inspirado em Jack Nicholson em O Iluminado — uma das melhores atuações masculinas da história do cinema de terror —, mas faz tudo o que o veterano fez… mal feito. Como na cena em que tenta arrombar a porta para atacar o amigo e olha pela fresta lascada, demonstrando como um momento clássico pode ser mal referenciado.

Nobuhiro Yamashita, dono de uma vasta filmografia e conhecido por obras leves como Hazy Life (1999), Linda, Linda, Linda (2005) e The Matsugane Photoshop Affair (2006), adapta o roteiro do mangá homônimo de Nobuyuki Fukumoto e Kaiji Kawaguchi, publicado em 1998 na Young Magazine Uppers. Infelizmente, o cineasta desperdiça o material com plot twists forçados, que não têm desenvolvimento narrativo suficiente para impactar o público e são mal inseridos na montagem, aparecendo como memórias aleatórias dos personagens em meio à briga.

Por fim, a adaptação ainda falha ao negligenciar a perspectiva da mulher do triângulo amoroso — vítima de feminicídio —, que tem sua vida ceifada pela crueldade egoísta de Yang e Toma. A narrativa é sequestrada por esses dois personagens masculinos, enquanto o ponto de vista dela nunca recebe destaque ou complexidade como o deles.

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