Crítica | Cobertura 50º TIFF | Frankenstein

Frankenstein (Estados Unidos, 2025)

Título Original: Frankenstein
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro com base na obra da Mary Shelley
Elenco principal: Oscar Isaac, Jacob Elordi, Mia Goth, Christoph Waltz, Felix Kammerer, Lars Mikkelsen, David Bradley e Charles Dance
Duração: 2h 29min (149 minutos)

Parece que 2025 é um ano de concretização de muitos trabalhos dos sonhos de cineastas já consolidados. Talvez por conta da lembrança da nossa mortalidade causada pela pandemia, ou talvez simplesmente por coincidência da existência, esse também é o caso de Frankenstein. O diretor Guillermo del Toro estava há anos criando esse projeto e, cinéfilo assumido, pensando nas diferenças que ele teria das outras obras, que são muitas, criadas a partir do mesmo livro. E agora o resultado dessa pesquisa e filmagem intensivas chega ao público.

A história básica de Frankenstein já é de conhecimento geral. Um cientista, Dr. Victor Frankenstein (Oscar Isaac), não aceita a imposição da morte na vida dos humanos. Ele começa então a tentar criar a vida a partir de cadáveres e, costurando tecidos, músculos e órgãos, cria A Criatura (Jacob Elordi). Só que, sem a aptidão ou noção de que assim se tornaria pai de uma criatura de aparência grotesca, ele abandona sua criação.

Algo que del Toro faz perfeitamente é respeitar a obra original, o clássico romance gótico que é também considerado mãe da ficção científica por diversas vertentes. Notem que a palavra utilizada é respeitar, e não simplesmente transpor o livro para as telas. O diretor já é sábio o suficiente para compreender que as linguagens diferentes exigem soluções diferentes, assim como a passagem do tempo pede que algumas mudanças sejam feitas em relação à abordagem. Mas a essência, do homem que quer desafiar a morte por conta de seu gigantesco ego, e da criatura que não sabe como ou porquê está viva, mas que recebe da humanidade apenas a rejeição, estão absolutamente presentes. E, dando até uma ajudinha para o comportamento dos humanos, o filme consegue atualizar essa fábula com estilo e delicadeza peculiar.

O estilo, é claro, está incluso em toda a direção de arte do filme. Dos maravilhosos figurinos que chamaram a atenção nas primeiras imagens de divulgação, nas locações escolhidas para apresentar os diversos momentos da vida dos personagens e chegando até o cuidado nos mínimos detalhes, é impossível assistir o filme e não se deixar levar por esse universo que ele está criando. Se por um lado é preciso destacar as vestes usadas por Elizabeth (Mia Goth), uma das poucas personagens femininas do longa, por outro lado é a figura da Criatura que ficará marcada para a posteridade. Entre uma maquiagem complicada e uma excelente interpretação de Jacob Elordi, a mudança de uma inocência no começo da obra até a sua completa descrença no final exigiram muito de Elordi, cujos papeis anteriores estavam mais acomodados em sua beleza. É interessante perceber como, quando ele se despe desse atributo físico, sua vulnerabilidade se aflora em frente às câmeras.

Algo que é novo a essa adaptação e que está muito ligado ao espírito dos nossos tempos é a introdução do pai de Victor, Leopold (Charles Dance), como um homem abusivo e com um péssimo relacionamento com o filho. A história se torna, além da história do homem com um ego gigante e da criatura solitária, um conto sobre a quebra de padrões de relacionamentos familiares. É igualmente interessante como a figura de Elizabeth ganha maior protagonismo, com um papel que permite à atriz imprimir maior personalidade.

Um elemento dessa adaptação audiovisual e que não funciona tão bem é a trilha sonora. Ainda que a abordagem do filme seja abertamente mais lírica do que voltada para o horror, alguns temas são repetidos em momentos que fazem com que o espectador se sinta emocionalmente manipulado – o que é o exato oposto do esperado por uma trilha sonora. Se há um acerto na tonalidade das atuações, a parceria de sucesso entre del Toro e Alexandre Desplat aqui parece desequilibrada.

Assim, o filme vem em um momento em que os monstros clássicos estão sendo revividos e traz um toque bem claro do diretor ao texto original, mas não tem o brilhantismo e originalidade de projetos anteriores como O Labirinto do Fauno (2006) ou A Forma da Água (2017). Não que isso torne o longa ruim, é apenas a régua do diretor que é extremamente alta.

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