Dan Da Dan: Evil Eye (Japão, 2025)
Título Original: Amazon Bullseye
Direção: Fuga Yamashir e Abel Góngora
Roteiro: Hiroshi Seko
Elenco principal: Shion Wakayama, Natsuki Hanae, Mayumi Tanaka, Nana Mizuki, Kaito Ishikawa, Kazuya Nakai e Ayane Sakura
Duração: 93 minutos
Distribuição brasileira: Cinemark
Se tem uma coisa bem comum nas animações japonesas – os tão conhecidos animes – são premissas bizarras e que causam um estranhamento à primeira vista. É até difícil dizer se é simplesmente por causa do choque cultural, já que há tantas narrativas excêntricas, para dizer o mínimo, que surgem no formato, desde narrativas mais cômicas como Ranma ½ até obras cinematográficas e filosóficas como A Viagem de Chihiro. Mas mesmo para quem já está acostumado com esse universo, o mais recente Dan Da Dan meio que eleva o nível do absurdo com uma história tão louca quanto surpreendentemente divertida. E com uma mitologia e complexidade bem maiores do que sugere à princípio.

Criado por Yukinobu Tatsu, a animação segue Ken Takakura e Momo Ayase. Ken é um garoto que ama ufologia enquanto Momo acredita em ocultismo. Uma vez que se conhecem e tentam provar um para o outro sobre suas crenças – já que um acha ridículo o que o outro acredita –, a dupla acaba esbarrando não apenas em fantasmas quanto em alienígenas. A partir daí, o absurdo toma conta quando roubam os testículos do garoto – sim, isso mesmo que você leu –, dando início a uma jornada cheia de obstáculos paranormais que vão desde monstros e espíritos até demônios e outras espécies.
Essa é apenas uma leve introdução ao universo da Dan Da Dan, que teve uma primeira temporada com doze episódios que são brevemente recapitulados nos minutos iniciais de Dan Da Dan: Evil Eye, novo filme da franquia que dá continuidade ao anime. Ou “filme”, com aspas, já que por mais que esteja formatado como um longa de 90 minutos, Evil Eye está mais para uma coletânea de episódios que englobam o início da segunda temporada, uma aparente tendência de mercado que já foi experimentada em outras franquias famosas do mundo dos animes, como Demon Slayer e Blue Lock. E algo que inegavelmente acaba afetando a maneira como experimentamos a obra.
O movimento de lançar episódios no cinema tem se mostrado cada vez mais comum, e é fácil entender a estratégia: franquias de sucesso recebem lançamentos nas telonas que vão, de alguma forma, expandir seu impacto e muito provavelmente atrair a atenção de pessoas que não necessariamente são fãs, mas podem conhecer e gostar da franquia. Porém se antes franquias como Dragon Ball e Naruto traziam filmes com tramas descoladas das narrativas originais, hoje isso parece não funcionar tão bem. A solução então é selecionar trechos da história para serem adaptadas no formato de um filme – como Haikyu fez no excelente Haikyu: A Batalha do Lixão – ou realizar essas coletâneas de episódios que já são parte de uma temporada.
No final, de uma forma ou outra, é oferecida ao fã a oportunidade de prestigiar seu anime do coração no cinema, em um projeto que faça jus a obra original. Mas se por um lado a opção de adaptar diretamente em um filme é uma ideia interessante, tornando o longa parte da história contada, a ideia de reunir episódios que já foram ou ainda serão lançados soa um tanto contraditória com a intenção dos realizadores. Afinal, o fã terá a opção de assistir ao corte no cinema ou junto da temporada, mas o fato é que a sensação de estar assistindo a um episódio estendido permeia toda a experiência, e no caso de Dan Da Dan: Evil Eye, fica evidente que estamos vendo capítulos colados, com a única diferença de não haver as tradicionais sequências de abertura e encerramento.
É notável, por exemplo, o momento em que há uma interrupção para o comercial – gerando cenas e diálogos que se repetem em sequência – ou quando um episódio é colado no outro. Falta, da parte da direção, um pulso firme para reestruturar o conteúdo de acordo com o formato, valorizando o ritmo exigido para um longa-metragem que acaba sendo bem diferente de quando assistimos episódios de 20 minutos por vez, pois ainda que comece e termine no mesmo ponto da história, haveria uma experiência minimamente diferente para o espectador. E também poderia evitar a sensação de que estamos assistindo a um comercial de mais de uma hora para a temporada que está por vir ou para a série como um todo. E claro, ao mesmo tempo, tornaria ainda mais grandiosos os acertos observados na obra, já que Evil Eye realmente entrega pontos positivos na animação e história, servindo muito bem como cartão de visita para aquele que cair de paraquedas.
Dan Da Dan: Evil Eye, afinal, é o início da segunda temporada e precisa arcar com a continuidade da história. Dessa forma, seus minutos recapitulando podem não ser suficientes para o espectador, que acabará perdido em algum nível conforme a história avança. Nesse ponto, a dupla de diretores Abel Góngora e Fuga Yamashiro lida muito bem ao criar algo realmente envolvente, a ponto de fazer com que compremos a narrativa de maneira razoavelmente rápida. Não tarda, por exemplo, para que a excelente animação e o trabalho musical criem um ritmo constante para que o público se sinta imerso, por mais maluca que possa parecer a jornada dos personagens. O estilo do traço e o uso das cores para representar os poderes – vermelho e roxo, comumente atreladas com energias malignas em animações – tornam as sequências de ação ainda melhores e valorizam ainda mais a experiência cinematográfica proposta.Ajuda muito também a peculiar mistura de gêneros proposta na obra. Dan Da Dan é praticamente uma comédia romântica com muita ação, mas pontuada com um toque de terror bastante característico. Uma mistura complexa que, de maneira curiosa, faz tudo funcionar ainda mais, mas sem nunca perder o toque cômico. É um equilíbrio delicado que os diretores manejam muito bem e que se torna ainda mais divertido pelas diversas referências e homenagens à cultura japonesa que vão ficando claras no decorrer do filme. O resultado é definitivamente interessante, gerando um anime singular e com uma mitologia intrigante, que neste caso só não se torna ainda melhor pela estrutura esquisita da colagem de episódios, que inclusive gera um final anticlimático que ressalta a sensação de que tudo não passou de uma peça de marketing. Ao menos, é uma peça de marketing visualmente impressionante e empolgante de assistir.