Crítica | Depois de Horas

Depois de Horas (EUA, 1985)

Nome Original: After Hours
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Joseph Minion
Elenco: Griffin Dunne, Rosanna Arquette, Verna Bloom, Linda Fiorentino, Catherine Anne O’Hara
Duração: 97 minutos
Disponível em: HBO Max

Quem nunca cruzou a cidade por um encontro que tem tudo para dar errado? Nesta clássica comédia de erros, acompanhamos Paul Hackett (Griffin Dunne), um homem comum entediado com seu emprego corporativo que, ao conhecer Marcy (Rosanna Arquette), descobre os perigos noturnos de Nova York dos anos 80.

Apesar de ser uma comédia, Depois das Horas (1985) carrega um toque noir em sua estética, que o deixa mais sofisticado para o gênero. O diretor Martin Scorsese consegue imprimir seu estilo com escolhas visuais que, além de embelezar a narrativa, intensificam o desconforto do protagonista.

Um exemplo, é a cena em que Kiki Bridges (Linda Fiorentino), artista plástica e colega de apartamento de Marcy, joga as chaves do prédio pela janela para Paul. A cena engrandece o filme a partir de ato aparentemente banal, que cria suspense nos detalhes mais comuns.

Outros elementos cinematográficos intensificam a sensação de insegurança de Paul ao se deparar com as tentações e ameaças da noite: as cores saturadas, a direção de arte, o granulado da imagem e a trilha sonora atraem ao mesmo tempo que indicam um perigo iminente.

O roteiro de Joseph Minion aposta em contratempos ridículos mas possíveis (como o dinheiro voando pela janela do táxi e o aumento repentino da passagem do metrô) e constroi personagens ambíguos com histórias que se cruzam, formando um verdadeiro quebra-cabeça narrativo. Nem todas as passagens convencem, mas no conjunto geral, entretém.

Em entrevista, Scorsese descreve o filme como “anxiety dream”, ou seja, parece muito com aqueles pesadelos em que tudo sai do controle, gerando desorientação e ansiedade. No subtexto, o filme retrata a alienação do trabalho corporativo, a solidão urbana e a busca por sentido nas relações sociais, bem como as diferenças sociais dentro da mesma cidade.

Sob a visão de Paul, muito bem interpretado por Dunne, as pessoas e situações que encontra são subversivas e instáveis – o oposto do que está acostumado na sua rotina controlada. Desta forma, a noite revela perigos que a luz do dia esconde: a violência, o crime, os excessos, os desejos reprimidos que desafiam a moral da época.

No geral, Depois de Horas diverte sem necessidade de grandes interpretações, sendo uma das obras mais subestimadas da carreira de Scorsese – que é marcada por temas mais densos, como em Taxi Driver (1974), Os Bons Companheiros (1990) e Assassino da  Lua das Flores (2023). O desfecho de Depois de Horas pode ser visto como um tanto óbvio, mas contém a ironia e o absurdo que atravessam todo o longa.

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