Dollhouse – A Maldição do Bebê Reborn (Japão, 2025)
Título Original: Dollhouse
Direção: Shinobu Yaguchi
Roteiro: Shinobu Yaguchi
Elenco principal: Masami Nagasawa, Koji Seto, Aoi Ikemura, Tetsushi Tanaka, Totoka Honda, Hiroki Konno, Jun Fubuki, Ken Yasuda
Duração: 110 minutos
Distribuição: Sato Company
Dollhouse: O terror do luto que se recusa a partir
O público brasileiro reencontra o cinema de horror japonês com Dollhouse (2025), o mais recente e surpreendente trabalho de Shinobu Yaguchi, premiado com o Grande Prêmio da 45ª edição do Fantasporto. Conhecido por comédias como Swing Girls (2004) e Dance With Me (2019), Yaguchi abandona o humor leve que marcou sua carreira para mergulhar em uma narrativa de tons sombrios, onde o cotidiano e o sobrenatural se misturam em uma mesma dor.

A mudança de gênero é, por si só, um ato de coragem. Yaguchi troca o ritmo da piada pelo peso do silêncio, e o resultado é um filme que nasce do desconforto do horror psicológico. O resultado é um terror silencioso, mais interessado em perturbar do que em assustar, construído a partir de gestos cotidianos e de uma tristeza que se recusa a desaparecer.
A trama acompanha Yoshie (Masami Nagasawa), uma mãe que perde a filha pequena em um acidente doméstico. Sem conseguir lidar com o luto, ela adota uma boneca em tamanho real e passa a tratá-la como se fosse a criança. O marido, Tadahiro (Koji Seto), observa o desequilíbrio da esposa enquanto tenta manter a família unida, até que a chegada de uma nova filha reabre feridas antigas e desperta algo diferente na casa.
Na primeira metade, Dollhouse brinca com a estrutura clássica dos filmes de bonecas amaldiçoadas, nos fazendo lembrar de títulos como Annabelle (2013) e Brinquedo Assassino (1988). Mas Yaguchi muda as expectativas: o terror não vem da boneca em si, como o elemento amaldiçoado dos outros longa-metragens, e sim do que ela representa.
Ao trazer referências às tradições espirituais japonesas, como o ritual do ningyō kuyō (cerimônia para enterrar bonecas indesejadas), o filme transforma a crença em reflexão sobre memória, culpa e apego.
O diretor brinca com o silêncio, e cada ruído e olhar se torna parte do terror. O medo é construído pelo que sugere, não pelo que mostra. No fim, o cineasta entrega um trabalho estranho, sincero e profundamente humano, um filme que entende o medo como consequência do amor. Dollhouse marca não apenas o retorno do J-horror às telas, mas também o reencontro de Shinobu Yaguchi com o lado sombrio da emoção, e Dollhouse revela sua verdadeira força: não é um filme sobre fantasmas, mas sobre a impossibilidade de deixá-los partir.




