Crítica | FFI | Linguagem Universal

Título Original: Universal Language

Direção: Matthew Rankin

Roteiro: Ila Firouzabadi, Pirouz Nemati e Mathhew Rankin

Elenco principal: Rojina Esmaeli, Danielle Fichaud, Sobhan Javadi, Pirouz Nemati e Mathhew Rankin

Duração: 89 minutos

Com humor excêntrico e absurdo, nova comédia de Matthew Rankin aborda crítica política superficialmente.

Os caminhos de duas garotas, um guia turístico e um funcionário público se cruzam em Winnipeg, uma região remota do Canadá que enfrenta um inverno rigoroso e vive sob uma constante propaganda política, cheia de habitantes peculiares e marcos históricos sem história.

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Depois de diversos curtas experimentais em sua filmografia, Matthew Rankin ganhou notoriedade como diretor em 2019 com a sátira política The Twentieth Century, seu primeiro longa-metragem, que lhe rendeu diversos prêmios no circuito do cinema canadense. Agora, ele retorna a esse subgênero da comédia com Linguagem Universal, uma obra com uma premissa curiosa e difícil de descrever em poucas palavras, devido à excentricidade de suas tramas paralelas.

Preciso iniciar este texto dizendo que foi justamente essa excentricidade que me atraiu para o filme. Diante de tantas sinopses genéricas com enredos que parecem ter sido gerados por uma inteligência artificial, Linguagem Universal se destaca por deixar o espectador intrigado com sua experimentação do início ao fim. Rankin utiliza o estranhamento do público diante de circunstâncias tão específicas a seu favor, explorando-o através do conteúdo e da forma cinematográfica. O uso da câmera estática e os enquadramentos distantes dos personagens valorizam a arquitetura simétrica dos ambientes e criam uma sensação de prazer visual, algo semelhante ao formalismo de Wes Anderson (O Grande Hotel Budapeste e Moonrise Kingdom) e ao modo como o diretor filma seus cenários. Por outro lado, os diálogos impassíveis e as críticas sociais ordinárias conversam com o estilo narrativo de Aki Kaurismäki (Folhas de Outono e O Homem Sem Passado) por meio de uma comédia absurda e desconcertante.

Os quase noventa minutos de duração me levaram a uma sequência de cenho franzido e gargalhadas genuínas pelo humor estranhamente familiar. E, sutilmente, Matthew Rankin estampa o absurdismo e cativa nossa atenção enquanto tangencia referências estilísticas de outros diretores de sucesso e pré-estabelece essa linguagem universal, compreensível a todos, mas alienante a seu próprio modo, que intitula o filme.

Contudo, é preciso reconhecer que essa “linguagem universal” não funciona por completo. A ideia de um mosaico de histórias que aparentemente seguem de forma independente e, de repente, se completam é atraente, mas também se auto-sabota. Rankin investe em uma montagem que apresenta os personagens e seus conflitos gradativamente, utilizando o humor como o gancho que levará o desfecho dessas tramas a um encontro circunstancial. Superficialmente, essa colagem funciona. Apesar de, por vezes, perder o timing, o tom cômico encontra os intervalos certos para conectar uma piada à outra, dando ritmo às gargalhadas e escapando da verborragia que apenas tenta fazer graça e aguarda a aprovação do espectador. Linguagem Universal não se perde em tentar ser engraçado; ele simplesmente é.

Por outro lado, a complexidade das críticas ao regime autoritário fictício é deixada de lado. O discurso contra esse tipo de governo, alienante ao povo e desestimulante ao intelecto, fica como pano de fundo e, apesar de palpável, é pouco explorado. O filme satiriza o tema com sagacidade, mas não expande essa sátira para discussões mais relevantes.

Portanto, Linguagem Universal acaba como um dialeto incompleto, capaz de formar frases simples com sacadas ácidas e afiadas e incapaz de argumentar com mais eloquência sobre críticas mais incisivas.

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