Invocação do Mal 4 – O Último Ritual (EUA, 2025)
Título Original: The Conjuring: Last Rites
Direção: Michael Chaves
Roteiro: Ian Goldberg, Richard Naing e David Leslie Johnson-McGoldrick
Elenco principal: Patrick Wilson, Vera Farmiga, Mia Tomlinson e Ben Hardy
Duração: 135 minutos
Distribuição brasileira: Warner Bros.
Quando James Wan decidiu fazer um filme sobre o casal Warren nos idos de 2013, tinha em mente o potencial de uma nova franquia do cinema de terror, mas com certeza não imaginava que seria só o primeiro de um universo cinematográfico que bateria nove filmes (e talvez siga crescendo). O problema foi que, com o merecido sucesso do filme original, veio a sanha da indústria por explorar esse universo financeiramente e, em consequência, um desapego com a qualidade. Invocação do Mal 4 – O Último Ritual chega doze anos depois com a proposta de encerrar a série principal da franquia, mesmo que outros derivados ainda sejam esperados.

Consciente até demais de ser o filme final da saga dos Warren, o longa força a barra das auto-referências. Da tentativa de emular o famoso plano-sequência do primeiro filme na hora de apresentar a casa e a família sobre quem a maldição recairá dessa vez, passando pela re-aparição de personagens dos outros três filmes, incluindo alguns que não víamos desde 2013, e até o retorno da fatídica boneca Annabelle, há um excesso de referências e easter eggs que anuncia o fim que se aproxima e busca brincar com as emoções dos fãs. A questão é que a franquia não é tão antiga assim e a saga principal contém apenas quatro filmes, ou seja: esse excesso de sentimentalismo puramente formal acaba perdendo parte de sua lógica. Acredito que se viesse em menor quantidade, teria mais força e seria mais divertido de acompanhar.
Isso colocado, é preciso reconhecer que esta entrada da série é melhor que a anterior. A troca de James Wan por Michael Chaves no terceiro filme poderia ter derrubado a franquia e não o fez por pouco, já que Invocação do Mal 3 é, de longe, o pior avaliado. O que leva a dúvidas sobre o porquê da escolha de mantê-lo na direção do filme seguinte. Porém fica claro que a mão dos produtores se fez presente e o filme consegue se manter de pé e servir como um encerramento decente, apesar de um pouco forçado, para a maior franquia do cinema de terror recente.
Se utilizando bastante das figuras de Ed e Lorraine Warren, este é o único filme da série em que a família assombrada é pouco desenvolvida e nós não criamos nenhuma conexão com as vítimas. Por um lado, isso tira o peso do sofrimento pelo qual eles passam, por outro, é uma boa escolha focar no casal de demonologistas que conecta todos os filmes e nos trouxe até aqui.
A história gira em torno da filha do casal, Judy, que nasce ao mesmo tempo em que os dois vivenciam seu primeiro encontro com um espírito maligno que habita um espelho de sua casa – que espírito é esse? Como ele foi parar no espelho? Qual é a mitologia ou a origem de tudo isso? Nunca descobrimos. Um corte temporal nos leva à juventude da menina, que herdou a mediunidade da mãe e agora se vê perseguida por uma força das trevas que não é capaz de compreender, cujas aparições se dão na forma de uma mulher velha ou na já gasta figura da boneca Annabelle. Com os pais aposentados por questões de saúde de Ed, a vida da família Warren segue em paz e relativa normalidade. Judy tem um namorado, Tony, com quem pensa em se casar e tudo vai bem – até o início das aparições que a tiram de sua rotina e passam a se mostrar verdadeiros riscos ao seu bem estar. Lorraine consegue sentir que algo não está certo e tanta dialogar com a filha, mas esta prefere não preocupar a mãe.
Enquanto isso, vemos a família Smurl sendo perseguida por uma entidade que começa a atacar os moradores da casa. Mesmo pedindo ajuda à Igreja, nada acontece e os episódios vão ficando mais frequentes. Eles decidem midiatizar o caso e, rapidamente, a história chega nos Warren. A recusa inicial de cuidar do caso é quebrada pela postura de Judy, que se sente conectada a o que está acontecendo na casa. Com o caminhar do filme, porém após um tempo mais longo do que nos anteriores, as duas famílias finalmente se unem sob o mesmo teto e a investigação começa.
O engraçado é que é neste momento – em teoria, o mais aguardado e que sabemos que levará ao ápice do terror – que o filme perde força. Enquanto brinca de “casa mal-assombrada”, Chaves consegue bons momentos aterrorizantes, com destaque para a cena que talvez seja a mais simples do longa, mas com certeza a mais efetiva, em que a mãe da família visita o porão e percebe a presença de um homem no canto do quarto. Ao acender a luz, vê que não há ninguém onde antes ela via a silhueta. Não há sustos gratuitos, não há nem uma trilha tensa e é nesses momentos que o filme consegue deixar o espectador na ponta da cadeira. A partir do terceiro ato, no momento que a investigação começa, as cenas com as aparições se tornam cada vez mais barulhentas e cheias de efeitos especiais. Neste sentido, destaco a cena que mais causa constrangimento, em que uma versão computadorizada da boneca Annabelle (mais uma vez em cena) ganha vida, cresce até mais de dois metros de altura e persegue uma das personagens – uma cena que lembra a também constrangedora sequência da senhora de It: Capítulo Dois (2019). No fim, o grande confronto final da família Warren contra o tal demônio anônimo – e seu misterioso espelho – que os assombra há anos é uma cena curta, que não assusta e se resolve de forma simples e um tanto brega na sua tentativa de emocionar o público com a imagem da família lutando unida.
Com todos os seus erros e acertos, é possível dizer que o filme entrega um final sentimental – mesmo que às vezes forçado – ao casal Warren e encerra a série principal da franquia de forma justa, antes que a banalização que atingiu os derivados acabasse a afundando de vez. É uma pena que os últimos dois filmes não se sustentem como os dois primeiros, mas poderia ter sido pior: poderiam ter continuado até Invocação do Mal X – Annabelle vs. Jigsaw – e talvez esse pensamento seja a verdadeira assombração.