Crítica | Lobisomem

Após o sucesso de O Homem Invisível, Leigh Whannell retorna aos monstros clássicos da Universal com uma adaptação de Lobisomem que aborda a hereditariedade do trauma.

Anos após o desaparecimento de seu pai, Blake (Christopher Abbott) recebe seu o certificado de óbito e herda a casa onde cresceu, localizada na região rural do Oregon. Diante de uma crise no casamento e de uma pausa na carreira, ele leva sua esposa, Charlotte (Julia Garner), e sua pequena filha, Ginger (Matilda Firth), para uma viagem de férias até a área remota, com o objetivo de reaproximar a família. Contudo, o lazer na fazenda se transforma em um pesadelo madrugada adentro quando uma fera noturna os ataca vorazmente: o mitológico Lobisomem.

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A clássica série de filmes de monstros dos Estúdios Universal, originalmente conhecida como Universal Monsters, estava “mumificada” no cinema recente após o fracasso do universo compartilhado Dark Universe, com o aventureiro reboot de A Múmia (2017), estrelado por Tom Cruise. Em 2020, porém, Leigh Whannell revitalizou a franquia com seu primeiro grande destaque como diretor ao lançar o remake O Homem Invisível, um terror psicológico com um viés moderno centrado na problemática dos relacionamentos abusivos. Na mais nova adaptação de Lobisomem para os cinemas, o diretor dá continuidade a essas versões contemporâneas dos contos clássicos, embora com uma proposta menos inventiva e intrigante que a anterior.

As primeiras cenas de Lobisomem compõem uma introdução ao passado do protagonista que é um tanto convencional e guia boa parte do roteiro, incluindo suas reviravoltas previsíveis. Acompanhamos o trauma de infância de Blake e seu primeiro contato com a criatura metade homem, metade lobo, que ataca ele e seu pai de forma inesperada à luz do dia. Esse prelúdio parece ter definido a vida do jovem rapaz trinta anos depois. Sua maneira carinhosa e acolhedora de tratar Ginger, contrastando com a rusticidade do pai, e seu desejo de manter a família unida o levam a confrontar seus traumas mais profundos.

Nesse sentido, a adaptação apresenta um início bem arrastado e, por vezes, entediante. É previsível que Blake retorne à fazenda, reencontre a besta que continua a assombrá-lo e, de acordo com o andamento dos acontecimentos, se transforme ele próprio no Lobisomem. Da mesma forma, é fácil deduzir a revelação – que deveria ser chocante – de que seu pai é o lobisomem que os persegue. A trama se apoia na metáfora dos traumas hereditários, que muitos de nós tentamos superar para nos tornarmos uma versão melhor de nós mesmos para nossas famílias, mas que insistem em nos assolar. Embora essa metáfora seja interessante, ela é apenas tangencialmente abordada e acaba sendo deixada de lado em prol das transformações do protagonista e das perseguições que ocupam grande parte da duração do filme, de cerca de uma hora e quarenta minutos.

Apesar disso, é louvável a tentativa de Whannell – que, vale mencionar, também assina o roteiro – de trazer algo único para sua adaptação. Ele recorre à lenda original, segundo a qual o Lobisomem se transforma por meio de uma infecção. Esse processo é bem representado pela equipe de maquiagem, composta por cinco maquiadores, que criaram efeitos práticos impressionantes após horas de trabalho árduo, segundo o diretor. Além disso, o filme aborda de maneira sutil questões relacionadas ao isolamento e às contaminações, evocando um mundo pós-pandemia, embora essas temáticas sejam exploradas de forma tímida.

O aspecto técnico que mais se destaca, entretanto, é a edição de som. Composta por sete profissionais, muitos dos quais contribuíram para elogiados filmes de terror recentes, como X – A Marca da Morte, Pearl e Alien: Romulus, o som de Lobisomem fortalece o suspense e mantém o espectador em estado de alerta. Esse trabalho é complementado pela trilha sonora de Benjamin Wallfisch – que também compôs para O Homem Invisível -, conferindo um toque de sofisticação ao horror do filme.

Lobisomem provavelmente não será o fracasso que A Múmia (2017) foi, mas também não alcançará o reconhecimento crítico de O Homem Invisível. Lamentavelmente, talvez seja apenas mais um filme de monstro da Universal, com personalidade intermitente entre um uivo e outro.

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