Crítica | M3GAN

M3GAN (Estados Unidos, 2022)

Título Original: M3GAN
Direção: Gerard Johnstone
Roteiro: Akela Cooper (história de Akela Cooper e James Wan)
Elenco principal: Allison Williams, Violet McGraw, Amie Donald, Jenna Davis (voz de M3GAN), Ronny Chieng e Brian Jordan Alvarez
Duração: 102 minutos
Distribuição: Universal Pictures
Sinopse: Após perder os pais em um acidente, a jovem Cady vai morar com sua tia Gemma, uma engenheira robótica de uma empresa de brinquedos em Seattle. Gemma desenvolve M3GAN, uma boneca humanoide movida por inteligência artificial, projetada para ser a melhor amiga de uma criança e auxiliar os pais. Quando Gemma presenteia Cady com o protótipo, a relação entre as duas se intensifica, mas M3GAN começa a agir de forma autônoma e violenta para proteger Cady a qualquer custo.

Em um cenário dominado por revisitações e repackagings, M3GAN surgiu como um produto de alta consciência mercadológica. E não só por isso. Assim como outras criações da grife James Wan, o longa parte de uma ideia-base conhecida (neste caso, uma boneca assassina com inteligência artificial) para montar um espetáculo que, antes de qualquer pretensão dramática ou existencial, entende onde quer chegar: na eficácia.

O que a direção de Gerard Johnstone e o roteiro de Akela Cooper (a mesma mente por trás do deliciosamente insano Maligno) compreendem desde o início é que a densidade temática – o luto, a parentalidade improvisada, a relação entre infância e tecnologia – nunca é o fim em si, mas o caminho necessário para que a M3GAN possa entrar em cena. O filme até flerta com um discurso sobre o abandono da infância nas mãos de dispositivos eletrônicos e a automação dos afetos, mas o faz com um senso de ironia que jamais se compromete em desenvolvê-los com profundidade. E talvez nem devesse.

O que há aqui é uma aposta segura em um cinema de gênero que sabe o que tem em mãos. A boneca dançante que se transforma em ícone pop antes mesmo da estreia é também o coração de um slasher sci-fi onde tudo é meticulosamente calibrado: a violência é contida, o humor é ácido e ocasionalmente absurdo, e o terror é sempre milimetricamente construído em torno da presença performática da M3GAN. Allison Williams, no papel da tutora improvisada, entrega uma interpretação de superfície limpa, quase asséptica, que serve bem à narrativa funcional do filme, ainda que nunca a eleve.

E é justamente essa funcionalidade que define M3GAN. É um filme de ambições modestas que joga com a fórmula, mas sem jamais querer explodi-la. A estrutura remete inevitavelmente ao Brinquedo Assassino de 2019 (com o qual compartilha boa parte dos pilares narrativos), mas aqui a ausência de uma franquia pré-existente funciona a favor: M3GAN nasce já com espaço para inventar seu próprio mito, e o faz com plena consciência de sua vocação para virar franquia.

No fim, há algo admirável nessa proposta: o reconhecimento de que, no horror contemporâneo, o que viraliza pode ser tão importante quanto o que assusta. Ao invés de se esconder disso, M3GAN se entrega à sua lógica de espetáculo, ao timing cômico da morte, ao TikTok como ferramenta de marketing e à estética de clipe como marca visual. Não há aqui um grande filme de horror, mas há um ótimo produto de horror. Considerando o atual mercado do cinema de gênero, isso talvez diga ainda mais.

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