Crítica | Nonnas (2025)

Nonnas (EUA, 2025)
Direção: Stephen Chbosky
Roteiro: Liz Maccie, Jody Scaravella
Elenco: Vince Vaughn, Lorraine Bracco, Talia Shire, Susan Sarandon, Linda Cardellini, Joe Manganiello, Drea de Matteo, Brenda Vaccaro
Duração: 111 min
Disponível em: Netflix

Para muitos, a comida de vó tem um gosto especial de infância. E se um restaurante reunisse apenas vovós para recriar exatamente essa sensação? Esse lugar existe e virou a premissa de Nonnas, filme indicado ao Emmy de Melhor Filme para Televisão em 2025.

Após perder sua mãe, Joe Scaravella (Vince Vaughn) decide abrir um restaurante diferente, no qual os chefs de cozinha são avós. A ideia é resgatar sua experiência gastronômica de infância, valorizando a história e celebrando tradição passada por sua própria avó (nonna significa vovó em italiano).

O filme começa com uma cena que remonta a uma lembrança de Joe observando sua mãe e avó cozinhando. Aqui, além de entendermos o papel da culinária para a motivação principal do personagem, a identidade dos ítalo-descendentes nos Estados Unidos é reforçada. Para isso, o filme abusa dos elementos característicos da herança cultural ítalo-americana: as cores quentes da fotografia, os figurinos, os cenários e o falatório dos personagens na cozinha são embalados por uma sequência de músicas folclóricas do sul da Itália.

A caracterização, com apelo visual que lembra os comerciais da loja de departamento britânica John Lewis ou da rede gaúcha de supermercados Zaffari, tem uma atmosfera de sonho e retrata a idealização de uma época pelo personagem. Apesar de se dissolver após a cena de abertura, essa estética permanece ao longo do filme de forma mais sutil.

Após comprar o restaurante, Joe convence quatro nonnas a fazer parte da equipe de cozinheiras. A primeira é Roberta, interpretada por Lorraine Bracco, a icônica psicóloga de Tony Soprano da série The Sopranos – série que também retrata o universo ítalo-americano. A personalidade rabugenta e desbocada de Roberta no lar de idosos parece, inclusive, ter sido inspirada em Lívia Soprano, a mãe de Tony.

As demais nonnas são interpretadas por Susan Sarandon, Talia Shire e Brenda Vaccaro, que, com seus carismas, criam uma dinâmica leve e divertida para levantar questões de solidão dos idosos e etarismo, o que representa o ponto alto do filme.

Outro tema explorado aqui é a imigração e o esforço dos grupos migrantes em cultivar suas identidades através de processo de unificação cultural. As desavenças entre os próprios descendentes italianos sobre suas regiões de origem mostram que a criação do imaginário da cultura ítalo-americana (retratada no filme), mesmo que reducionista e caricata, é uma forma de preservação da sua identidade coletiva.

Enquanto a trama das nonnas rende alguns momentos engraçados, a história do próprio Joe fica em segundo plano. As interações com seus amigos Bruno (Joe Manganiello) e Stella (Drea de Matteo – também presente na série The Sopranos) servem para o desenvolvimento do personagem. Já a relação romântica com Olivia (Linda Cardellini) é breve e sem tumultos, arranhando de leve na questão do luto. No entanto, em geral, essas tramas são menos interessantes e parecem servir apenas para contemplar a história do idealizador Jody Scaravella, que assina o roteiro ao lado de Liz Maccie.

Seguindo o estilo emotivo de Stephen Chbosky, visto em Extraordinário (2017) e As Vantagens de Ser Invisível (2012), Nonnas busca emocionar e inspirar por meio de situações que despertam identificação no público, ainda que recorra a um tom excessivamente afetivo e a estereótipos da cultura ítalo-americana.

Nos créditos, o espectador desavisado que assistir ao filme sem saber que a obra é inspirada na criação do restaurante nova-iorquino Enoteca Maria, pode facilmente ter a sensação de ter assistido a um longo e caprichado comercial do local.

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