O Quarto ao Lado (Espanha e EUA, 2024)
Título Original: The Room Next Door
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar baseado no livro de Sigrid Nunez
Elenco principal: Julianne Moore, Tilda Swinton, John Turturro, Alex Hogh Andersen, Alessandro Nivola, Esther McGregor, Juan Diego Botto e Anh Duong
Duração: 107 minutos
Distribuição Brasileira: Warner Bros
São poucos os cineastas que podem afirmar estar fazendo cinema há mais ou menos cinco décadas, e Almodóvar está neste seleto grupo – felizmente para todos nós que podemos seguir acompanhando seus filmes. Considerando a gama de assuntos abordados por seus filmes, ao ter o anúncio de uma nova obra pode-se esperar qualquer coisa, desde um drama sobre maternidade até uma história cheia de plot-twists que deixa o espectador na beira da cadeira até o seu último momento. Anunciado então seu primeiro filme em língua inglesa, aumentando a gama de atrizes com as quais poderia colaborar, foi criada uma grande expectativa sobre o que seria O Quarto ao Lado.

O longa-metragem se inicia com uma escritora, Ingrid (Julianne Moore), lançando seu mais recente livro e recebendo a informação de que uma antiga amiga, Martha (Tilda Swinton) está passando por um tratamento para câncer. Mesmo não estando tão próximas como já foram anteriormente, elas retomam a amizade dentro deste clima levemente tenso do forte tratamento experimental que Martha está passando. Entre conversas, remembramentos do passado e uma honesta troca de carinhos, vamos conhecendo mais sobre essas duas mulheres interpretadas por gigantes da atuação.
Um primeiro elemento muito importante é a escolha de qual seria a obra que narrativa que o diretor escolheria para essa primeira obra em inglês, e neste sentido, a escolha não poderia ser mais acertada. O filme conta a história de duas amigas nova-iorquinas, e apesar de sempre ser possível adaptar a realidade, o cenário é elemento importante da obra. Da quebra do estereótipo da falta de amor nas cidades grandes, passando pelos relatos sobre a vida na cidade nos anos 1980 e chegando até o elemento de fuga daquele espaço em busca de um contato maior com a natureza, tudo se encaixa a Nova Iorque.
E obviamente, o trabalho com as atrizes experientes e excelentes Julianne Moore e Tilda Swinton é facilitado pela língua adotada. Em um primeiro momento, é difícil compreender qual será o caminho da relação das personagens, embora o afeto entre elas seja claro desde o momento de seu reencontro. Como os primeiros momentos são utilizados para situar o espectador das vidas que elas tiveram enquanto distantes, há uma exposição que demora a se encaixar em relação ao que será proposto. No entanto, já acostumado a lidar com as nossas expectativas, Almodóvar consegue aguardar o momento correto para retomar as informações, criando conexões entre tudo que nos é apresentado. Mesmo com o ritmo um pouco mais lento no início, que possivelmente funciona melhor em literatura do que em telas, é possível compreender porque todos aqueles momentos são citados.
O longa-metragem consegue equilibrar suas doses de drama e de um bom humor que não chega a ser comédia. Existe um assunto principal, que é a morte, e isso é respeitado mesmo quando se fazem piadas um pouco mais sarcásticas sobre a situação – o que ressoa perfeitamente no meu humor, mas talvez incomode um espectador mais sensível. O que se percebe é que, mesmo ao falar sobre as possibilidades mais difíceis da vida, o filme consegue criar personagens que são tão reais que sua humanidade transparece. Com o mérito das atrizes, conseguimos entender os anseios de uma e como eles ressoam na outra. Conseguimos entender a compreensão mútua dessa relação e como ela é importante para ambas. E com isso, simplesmente nos entregamos para a história que causa uma reflexão profunda sobre a nossa própria mortalidade e o quanto de nossa humanidade vem de temê-la ou abraçá-la.
Temos então um filme permeado pela morte, mas que também consegue trazer uma mensagem positiva sobre a vida. E se existe um diretor do qual isso poderia ser esperado, certamente seria o Almodóvar.