Premonição 6: Laços de Sangue (EUA e Canadá, 2025)
Título Original: Final Destination: Bloodlines
Direção: Zach Lipovsky e Adam B. Stein
Roteiro: Guy Busick, Lori Evans Taylor e Jon Watts
Elenco principal: Tony Todd, Brec Bassinger, Richard Harmon, April Telek, Rya Kihlstedt, Kaitlyn Santa Juana, Anna Lore, Max Lloyd-Jones e Teo Briones
Duração: 110 minutos
Distribuição brasileira: Warner Bros
Após cinco filmes seguindo uma sólida, porém já cansada fórmula, a franquia Premonição pareceu atingir um teto criativo de como criar novas sequências. Há um esforço notável em brincar com as expectativas, estabelecendo novas regras que quebrem a dinâmica batida para entregar alguma experiência minimamente nova, mas é fato que nem sempre há espaço para uma reinvenção radical sem que a premissa básica se perca a ponto de descaracterizar a obra dentro da franquia. Assim, para surpresa de muitos, Premonição 6: Laços de Sangue (Final Destination: Bloodlines) conseguiu esse feito justamente quando parecia que a franquia estava morta – com o perdão do trocadilho.

Se enquanto franquia, Premonição nunca foi um poço de criatividade, a sexta entrada da série vai além dentro da própria premissa ao criar uma dinâmica inédita com os novos personagens e até mesmo com a sequência inicial, que é quase sempre um show de terror à parte. Os diretores Adam B. Stein e Zach Lipovsky inclusive aproveitam bem o recurso do IMAX, tanto nessa abertura quanto nas demais sequências de morte, para criar momentos ainda mais imersivos, potencializando o que há de melhor nos filmes da franquia: o gore e as cenas cada vez mais mirabolantes e improváveis, mas cotidianas o suficiente para deixar alguns espectadores traumatizados.
Trauma é, aliás, um aliado da franquia quando observamos como ela se tornou tão memorável junto ao público, já que há diversas cenas que marcaram os espectadores justamente pela aleatoriedade aliada à sensação de que aquilo poderia acontecer a qualquer hora e com qualquer um. Em cinco filmes, Premonição entregou sequências marcantes envolvendo elevadores, escadas rolantes, salas de cinema e, talvez a mais emblemática de todas, um caminhão de toras de madeira que é lembrado com certo carinho – para não dizer terror – até hoje. Não é estranho, portanto, que Stein e Lipovsky utilizem esse legado a seu favor, estabelecendo diversas referências – algumas óbvias, outras mais sutis – para agradar aos fãs, mas também provocando arrepios com as imagens criadas nos filmes anteriores.
Ainda assim, o maior diferencial de Premonição: Laços de Sangue é a maneira como os roteiristas Guy Busick e Lori Evans Taylor criam uma história divertida sem precisar depender unicamente das boas mortes. Busick carrega para a obra sua experiência no gênero com filmes que se aproximam de um tom metalinguístico esperto – Casamento Sangrento, Abigail e o quinto e sexto filmes da franquia Pânico – e junto de Taylor estabelece uma narrativa onde a autorreferência é mais do que um conjunto de easter-eggs e sim parte da lógica interna. A participação de Tony Todd, por exemplo, é mais do que apenas um mecanismo para explicar as ações da morte, conectando o personagem de maneira mais concreta aos eventos do filme e criando no processo uma belíssima homenagem ao ator falecido em 2024 em decorrência de um câncer.
O mesmo se aplica a ideia da premonição como evento que desencadeia a série de mortes que está por vir. O comum da franquia é apresentar a grande cena inicial para depois seguir os alvos um a um, em sequências menores em escala, mas com seu valor enquanto entretenimento – a ideia de jogar elementos distintos em cena para deixar o espectador criando cenários bizarros na própria mente nunca falha –, mas Laços de Sangue joga com a subversão para reintroduzir a franquia para o novo público, o que é justo tendo em vista a diferença de 11 anos entre o quinto filme e este. Assim, quando a sequência envolvendo um restaurante no topo de um prédio durante os anos 60 se mostra sendo uma visão diferente das demais, chegando até a protagonista da vez, Stefani (interpretada por Kaitlyn Santa Juana) através de um sonho nos dias atuais em vez de poucos instantes antes da pessoa na visão, a surpresa é imediata, mas vai além ao criar uma dinâmica familiar em vez de um grupo de desconhecidos unidos apenas pelo destino mortal de escaparem – momentaneamente – da morte.
Isso porque não demora para Stefani perceber que não apenas ela, mas toda sua família está em risco em decorrência desse escape. A ideia de focar em um grupo familiar em vez de colegas de trabalho, colégio ou simplesmente pessoas aleatórias acrescenta uma camada de dramaticidade maior para a narrativa, oferecendo também diversos conflitos que apenas um núcleo familiar poderia oferecer. Ao mesmo tempo que há uma boa abordagem sobre conflitos mal-resolvidos como a da protagonista com a própria mãe, há também espaço para um humor que surge espontaneamente de relações como a dos primos de Stefani, um trio de irmãos cuja relação soa familiar com naturalidade. Tudo isso cria um tom bastante especial para Premonição 6 e permite que ele vá além na hora de tecer uma história um pouco mais elaborada, mas que talvez precisasse de um pouco mais de tempo para se desenrolar, já que é justamente durante o clímax que a obra acaba soando um pouco mais apressada.
Mas ainda que se mantenha um tanto conservador na hora de inventar novas regras para subverter o jogo da morte, Premonição 6: Laços de Sangue se mantém firme em matéria de qualidade por acertar enquanto evolução natural de uma franquia cansada, ao buscar na dinâmica familiar uma maneira de criar uma nova porta de entrada para a franquia. Isso acontece sem deixar de lado o legado e mantendo parte da fórmula ao repetir o que deu certo, entregando mais uma coletânea de mortes que ficarão guardadas no coração dos espectadores e, com sorte, irão gerar novos traumas para uma geração que não se importa com caminhões de madeira na estrada. É o ciclo da vida. Ou da morte, neste caso.