Crítica | Sexa

Sexa (Brasil, 2025)​

Título Original: Sexa​

Direção: Gloria Pires​

Roteiro: Guilherme Gonzalez​

Elenco principal: Gloria Pires, Thiago Martins, Isabel Fillardis, Danilo Mesquita, Eri Johnson, Rosamaria Murtinho, Dan Ferreira e Déa Lúcia​

Duração: 90 min (1h 30min)

Distribuição: Elo Studios

Como millenial, eu felizmente cresci com uma grande mudança de paradigma sobre o envelhecimento feminino. Das minhas avós, senhoras praticamente desde que eu nasci, e dedicadas ao lar, criação dos seus filhos e bem-estar dos maridos, além do trabalho, pude acompanhar de perto o envelhecimento da minha mãe. Pude perceber através dela que as idades foram se transformando, assim como as possibilidades na vida das mulheres de uma geração anterior à minha. Assim, talvez eu não compreenda tão bem o horror de chegar aos 60 anos que Bárbara (Gloria Pires), personagem principal de Sexa, possui.

Em sua primeira direção após uma carreira muito prolífica como atriz, Pires está no auge da crise contra o tiquetaquear do relógio. Com medo do próprio envelhecimento, vive uma vida tranquila na companhia de amigas, mas acabou se fechando completamente para as possibilidades de um romance por conta de seu filho Rodrigo (Danilo Mesquita). Machista e etarista, ele cataloga a sua mãe como essa senhora citada no começo do filme, ainda que ele mesmo dependa dela para pagar as contas de sua família.

O enredo parece equilibrar bem as doses de drama e comédia, mas o filme tem muita dificuldade em achar o seu tom. Por vezes ele é excessivamente melodramático, enquanto por outras soa como uma comédia quase pastelão. Junta-se a isso a proximidade da linguagem das telenovelas, e gera-se uma obra confusa em sua linguagem, ainda que a mensagem a ser passada seja não somente válida, mas também muito importante. 

Antes que a crítica seja compreendida por um ângulo incorreto, é necessário ressaltar que a experiência de assistir ao filme não é desagradável, ainda que haja momentos desconfortáveis para quem é mais versado na linguagem cinematográfica. A química entre os personagens principais, por exemplo, é bem construída pelos atores e consegue fazer com que o público crie empatia por eles e deseje uma boa solução para o seu problema. Mas enquanto isso acontece, temos problemas graves ligados ao som e à imagem do filme que fazem com que o espectador se lembre a todo momento que está em um cinema, fazendo com que parte da conexão e da magia do formato fílmico se percam.

O elemento principal que trabalha contra a obra é o seu próprio roteiro, que talvez mirando em uma linguagem como a adotada em novelas por conta do potencial público mais velho, parece esquecer que tem apenas aquele curto período de um filme para contar a sua história. Entre repetições da mesma ideia que soam como chavões – importantes para que se lembre de um personagem durante muitos capítulos, mas que perdem o sentido no cinema – e cenas que não conseguem mover a história, sua duração não consegue ser aproveitada para discutir os temas propostos com um pouco mais de profundidade.

Assim, uma obra que poderia se transformar em um marco cinematográfico brasileiro sobre essa geração de mulheres acaba abrindo mão da poesia ou da profundidade para se tornar mais leve. Bastará entender se essa escolha vai trazer mais público aos cinemas, ou se a escolha foi em vão e perdeu-se uma oportunidade tendo uma grande estrela global em sua estreia na direção de filmes.

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