Superman (EUA, 2025)
Título Original: Superman
Direção: James Gunn
Roteiro: Jerry Siegel, Joe Shuster e James Gunn
Elenco principal: David Corenswet, Rachel Brosnahan, Nicholas Hoult, María Gabriela de Faría, Skyler Gisondo, Edi Gathegi, Isabela Merced, Nathan Fillion e Anthony Carrigan
Duração: 129 minutos
Distribuição: Warner Bros
Sinopse: Segue o super-herói titular enquanto ele reconcilia sua herança com sua educação humana. Ele é a personificação da verdade, da justiça e de um futuro melhor em um mundo que vê a bondade como algo antiquado.
Um letreiro. Cinco frases. E, em poucos segundos, James Gunn estabelece não apenas o cenário do seu novo Superman, mas também a linguagem com que pretende contá-lo. Não há prelúdios, não há tempo para introduções convencionais. O mundo já existe, os eventos já aconteceram, e o herói já está em movimento ou, mais precisamente, em queda. A narrativa começa não do zero, mas de um ponto de crise. E ao invés de oferecer respostas, o filme convida o público a se agarrar ao presente e correr junto.

Gunn não está interessado em revisitar as origens como um processo didático. Ele parte do pressuposto de que já conhecemos esse homem com cueca por cima da calça, e se não conhecemos, tudo bem, entenderemos pelo caminho. O que importa, mesmo, é o que ele significa hoje. E é nesse sentido que o novo Superman se mostra um manifesto contra o cansaço do gênero, com um diretor que ainda acredita, com afeto real, no potencial das histórias em quadrinhos como matéria de cinema.
É quase inevitável sentir que estamos abrindo uma edição qualquer de um gibi mensal, caindo no meio da trama, confiando que a narrativa nos alcançará. E ela alcança, não pelo excesso de explicações, mas pela força do tom. A mise-en-scène desenhada por Gunn valoriza o fantástico sem ironia, trata o lúdico com respeito e extrai da simplicidade uma estrutura dramática surpreendentemente sólida.
Não há disfarce aqui: este é um filme que se assume como advindo do quadrinho. E justamente por isso ele é mais livre, mais leve, mais divertido, ainda que não fuja das tensões e contradições centrais ao personagem. A busca de Clark por equilíbrio entre suas raízes alienígenas e sua identidade humana nunca esteve tão clara. E, mais do que isso, nunca esteve tão emocionalmente acessível. Ele é, acima de tudo, Clark. E isso muda tudo.
Dá para perceber, também, que Gunn reconfigura o tabuleiro da DC não como CEO, mas como contador de histórias. A escolha por iniciar a cronologia já no “capítulo 19” exige confiança e isso o filme tem de sobra. Confiança no espectador, no material original e em um elenco que carrega suas funções com carisma e propósito. Nicholas Hoult, por exemplo, faz de seu Lex Luthor algo entre o grotesco e o magnético.
Ao abandonar a pompa, o novo Superman reencontra a esperança. O senso de matinê pulsa em cada sequência de ação que, mesmo espetacular, nunca perde o pé no tom jovial que é a espinha dorsal do longa. Se há embates grandiosos, também há risos, olhares, calor humano. O Superman apanha, sangra, erra, e isso só o torna mais ícone. Não por ser invencível, mas por continuar mesmo assim.
No fundo, o que Gunn propõe não é reinvenção, mas reposicionamento. Ele dá passos para trás em relação à ambição quase messiânica que pairava sobre o personagem nas últimas décadas. E nesse gesto de recuo, encontra potência. A fantasia aqui não precisa ser adulta, sombria ou complexa para ser relevante. Basta ser sentida. E ela é.
Talvez esse seja o maior trunfo do filme: nos fazer lembrar por que gostamos tanto do Superman. Pela gentileza. Pela coragem. Pelo olhar que se volta ao povo com esperança, e não com arrogância. O filme é, no fim das contas, um abraço no herói e no público. Um gesto de fé no personagem, na DC, e em um cinema de gênero que ainda pode ser simples, bobo, bonito. E, acima de tudo, verdadeiro.