The Old Guard 2 (EUA, 2025)
Título Original: The Old Guard 2
Direção: Victoria Mahoney
Roteiro: Greg Rucka (baseado na série de quadrinhos de Greg Rucka e Leandro Fernández)
Elenco principal: Charlize Theron, KiKi Layne, Matthias Schoenaerts, Marwan Kenzari, Chiwetel Ejiofor e Veronica Ngo
Duração: 105 minutos
Distribuição: Netflix
Sinopse: Andy e sua equipe de guerreiros imortais estão de volta para enfrentar um novo inimigo terrível, que ameaça a existência da humanidade.
Há algo quase cínico, e talvez até cruel, em perceber que The Old Guard 2 se constrói enquanto ponte sem jamais se preocupar em ser um destino. Em pleno padrão Netflix de franquias montadas a esmo, a continuação da saga dos imortais liderados por Charlize Theron abandona qualquer senso de completude narrativa em nome de uma promessa vaga: a de que, futuramente, talvez, algo se resolva. Até lá, ficamos com a metade de um filme.

Dirigido por Victoria Mahoney, em substituição a Gina Prince-Bythewood, o longa aposta em um tom mais cru e seco, especialmente no que diz respeito às cenas de ação mais brutais, menos coreografadas, longe do verniz pop plastificado do original. Há uma tentativa clara de marcar uma nova identidade visual e tonal, mas que esbarra em escolhas estéticas que empobrecem a experiência: o cinza opressivo da fotografia mina qualquer energia visual, tornando os ambientes indiferenciados e desinteressantes, como se a paleta monocromática fosse sinônimo de seriedade.
Se Charlize Theron era o centro de gravidade do primeiro filme, aqui seu protagonismo parece diluído. O roteiro sugere um reencontro emocional entre sua personagem, Andy, e uma antiga amante que retorna do passado com implicações dramáticas claras, mas essa possibilidade é atropelada pelo surgimento de uma nova antagonista, Discord, interpretada por Uma Thurman em estado de piloto automático. Sua presença é tão fantasmática quanto seu plano de dominação: mal explicado, mal desenvolvido e mal resolvido. Há promessas de complexidade, mas nenhuma entrega real.
E é uma pena, pois o elenco tem material humano de sobra. KiKi Layne e Luca Marinelli continuam carismáticos como parte do grupo de imortais, oferecendo respiros de humanidade e afeto dentro de uma narrativa que, ironicamente, parece ter esquecido o que significa viver tanto tempo. Matthias Schoenaerts e Marwan Kenzari, embora com menos tempo de tela, mantêm alguma dignidade em seus personagens, enquanto Veronica Ngo, ainda subaproveitada, é relegada a mais um enigma que o próximo filme, talvez, explique.
Do ponto de vista técnico, a montagem tenta equilibrar as muitas frentes narrativas sem sucesso. A trilha sonora, desta vez menos invasiva do que no original, ainda carece de identidade; os momentos de ação, embora mais secos e viscerais, não alcançam o impacto necessário para compensar a ausência de qualquer clímax emocional. O terceiro ato, que deveria operar como ponto de ebulição narrativa, se encerra como final de temporada de streaming: abrupto, inconclusivo, até mesmo desrespeitoso com quem investiu atenção nas duas horas anteriores.
Há, contudo, momentos de brilho. A dinâmica entre os personagens segue funcionando, ainda que subexplorada, e Mahoney demonstra saber filmar ação com clareza mesmo quando o material em mãos é desorganizado. Mas o maior problema é estrutural: The Old Guard 2 não se sustenta como filme. É prólogo, é meio, é introdução de conflitos que não se resolvem, é preparação para um terceiro capítulo que ninguém sabe se virá.
Ao final, fica a impressão de que a Netflix — uma vez mais — apostou no modelo de “lança e reza”. The Old Guard 2 tem elementos suficientes para ser uma aventura sólida de ação sci-fi com personagens queer e protagonismo feminino forte, mas se sabota por confiar demais na ideia de que o público ficará esperando pela continuação. Talvez algumas histórias devam mesmo morrer, como disse a própria Andy no primeiro filme. E talvez essa seja uma delas.