Crítica | Todo Dia é Dia de Feira

Todo Dia É Dia de Feira (Brasil, 2025)

Título Original: Todo Dia É Dia de Feira
Direção: Sílvia Fraiha
Roteiro: Sílvia Fraiha
Elenco principal: Jose Arnaldo Barros da Silva, Luiz Fernando de Carvalho, Luiz Regoto, Ormeli Cristina de Nascimento Silva e Bianca di Marino Tagliari Sirotsky
Duração: 78 minutos
Distribuição brasileira: Califórnia Filmes

As feiras livres do Rio de Janeiro são legalmente um patrimônio histórico cultural imaterial desde 2022, e para além disso são uma parte importante da rotina de uma infinidade de brasileiros espalhados por todas as regiões do país. Em um mundo hiperconectado e com alimentos ultraprocessados, elas são importantes não apenas na questão de ajudar na manutenção de uma comunidade local, mas também para relembrar a aparência de frutas, verduras e peixes frescos.

Nesse contexto, criar um documentário sobre as feiras e sua importância para a cidade é um ato importante e político. Mais do que isso, colocando como seus personagens os feirantes, pessoas que acordam cedíssimo, se deslocam pela cidade e fazem esse mercado seguir vivo, se dá ainda mais significado para elas. Assim, tanto em ideia como no modo de colocá-la em prática, o filme parece extremamente importante e político de partida.

Infelizmente, ele nunca consegue alcançar esse potencial inicial. Após apresentar os personagens, ele segue uma dinâmica repetitiva de colocar as suas realidades em oposição à sua persona alegre da feira, além de contar um pouco do histórico de como cada um deles chegou lá. Seguimos para belíssimas cenas da dinâmica entre compradores e vendedores, imagens de drone das feiras, histórias pessoais de superação e, no fim, pouquíssimo se acrescenta sobre essa manifestação cultural importante e que segue quebrando as expectativas do avanço do capitalismo.

Temos uma reportagem jornalística muito bem captada e que soube escolher uma maneira de iniciar a contar uma história, mas que nunca consegue se desenvolver para um debate mais profundo. Até quando envolve a presença de um político que é colocado contra a parede para tentar encontrar uma resolução para questões estruturais das feiras, ele não consegue criar uma noção propositiva, apenas apontar dedos e esperar por uma resposta.

Ao escolher esse viés de falar sobre as feiras a partir do ponto de vista de pessoas que as produzem, a postura combativa que é apresentada em seu último terço fica completamente deslocada. Compreendendo a necessidade de tratar de política quando se fala sobre um movimento comunitário, essa sinergia com a apresentação dos feirantes faz sentido até algum momento, mas se torna branda demais quando se tenta dar um passo em direção a desenvolver um argumento. Assim, infelizmente o filme não aproveita a sua própria forma documental para criar um espaço de discussão de ideias que é tão abraçado pelo formato – mas mesmo assim tenta colher benefícios disso. Em analogia, este filme parece uma bola levantada para alguém cortar e fazer o ponto, mas infelizmente ele mesmo não consegue emplacar o movimento completo.

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