Crítica | Totto-chan: A Menina na Janela

Totto-chan: A Menina na Janela (Japão, 2023)

Título Original: Madogiwa no Totto-chan
Direção: Shinnosuke Yakuwa, Yûta Kanbe, Kunio Katô, Setsuka Kawahara
Roteiro: Tetsuko Kuroyanagi, Yôsuke Suzuki, Shinnosuke Yakuwa
Elenco principal: Liliana Ôno, Kôji Yakusho, Shun Oguri, Anne Watanabe e Karen Takizawa
Duração: 114 minutos (1h54min)
Distribuição: SATO Company

Nem toda animação precisa de grandes aventuras ou mundos fantásticos para emocionar. “Totto-chan: A Menina na Janela” aposta no cotidiano e acerta em cheio ao transformar uma história real em uma experiência delicada e profundamente humana.

Alguns filmes têm a capacidade de nos transportar de volta à inocência, e essa animação é exatamente esse tipo de obra. O longa japonês, produzido pelo renomado estúdio Shin-Ei Animation (de Doraemon e Crayon Shin-chan), adapta com delicadeza a autobiografia de Tetsuko Kuroyanagi, uma das personalidades mais queridas da televisão japonesa. Com a direção de Shinnosuke Yakuwa, a animação transforma lembranças pessoais em uma jornada visual e emocional repleta de humanidade.

Uma escola diferente e uma infância que inspira

A narrativa apresenta Totto-chan, uma menina curiosa e cheia de energia que, ela nasceu um espírito livre, e por não se encaixar nas normas rígidas da antiga escola, é transferida para a inovadora Tomoe Gakuen — uma instituição onde o aprendizado acontece em antigos vagões de trem. O ambiente acolhedor muda tudo, e a mensagem que percebemos aqui é a de que alguns lugares reprimem por muito pouco, enquanto outros incentivam a autenticidade, a curiosidade e o afeto.

Ali, sob o olhar acolhedor do diretor Kobayashi, Totto-chan descobre o verdadeiro significado da liberdade e da empatia. As lições ultrapassam o conteúdo das aulas: tratam sobre respeitar o ritmo de cada criança e valorizar o ato de aprender com o coração aberto.Se torna nítido que uma pessoa, tenha ela a idade que for, quando está confortável consigo, ajuda quem precisa, sem maldade, sem preconceito, e especialmente na animação, sem capacitismo.

A estética do filme é um espetáculo à parte. O estúdio entrega uma animação de traços delicados e paleta de cores que remete ao conforto e nostalgia, com cores pastéis e suaves, além de um traço característico das animações do país. Cada quadro parece pintado à mão com o cuidado de quem quer preservar uma lembrança preciosa.

A trilha sonora, suave e envolvente, acompanha o olhar da protagonista e intensifica cada descoberta. Há um equilíbrio refinado entre a poesia da infância e a dureza dos tempos de guerra, algo que permeia o cotidiano das famílias japonesas, sem jamais perder o tom esperançoso.

Entre amizade e aprendizado

O vínculo entre Totto-chan e Yasuaki, um menino com poliomielite, é o ponto mais emocionante da trama. A amizade dos dois nasce de forma natural e ensina que a empatia é a mais poderosa das lições. É por meio desses laços que o filme reflete sobre inclusão, compreensão e a força dos pequenos gestos.

Mais do que uma história sobre infância, “Totto-chan: A Menina na Janela” é uma celebração da curiosidade, da imaginação e do poder de enxergar o mundo com gentileza, mesmo quando o tudo parece desabar lá fora. É um daqueles filmes que falam com a criança dentro da gente.

A animação emociona e inspira na mesma medida. É um longa que conversa com o adulto de forma tocante, ao mesmo tempo em que ensina aos mais jovens sobre empatia e liberdade.

Uma obra imperdível para quem ama o cinema japonês e acredita que a verdadeira educação, e talvez a verdadeira arte, nasce do amor e da escuta. Uma frase dita pelo diretor Kobayashi mostra a potência e a mensagem por trás dessa animação:

“Antes de tudo, veja o ritmo, corpos e corações rítmicos são lindos. Um sapo foi visto pulando em uma lagoa mas não foi só baixo que ouviu […] É isso que devemos temer, ter olhos mas não conhecer a beleza, ter ouvidos mas não conseguir ouvir a música. Sem emoções fortes nunca se experimenta a paixão de verdade.”

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