Crítica | Yannick

Yannick (França, 2023)
Direção: Quentin Dupieux
Roteiro: Quentin Dupieux
Elenco: Raphaël Quenard, Pio Marmaï, Paul Rivière, Blanche Gardin, Sébastien Chassagne
Duração: 97 minutos
Disponível em: Mubi

Se, por um lado, as tecnologias e as mídias digitais empoderam as pessoas, fazendo com que deixem de ser meras espectadoras para se tornarem criadoras de conteúdo, por outro, elas também acabam “dando palco para maluco”.

Em Yannick, os sintomas da cultura da convergência – conceito de Henry Jenkins no qual o público deixa de apenas assistir e passa a criar conteúdo – são levados até suas últimas consequências em uma comédia que explora um absurdo possível.

No palco de um teatro parisiense, três atores – Paul Rivière (Pio Marmaï), Sophie Denis (Blanche Gardin) e William Keller (Sébastien Chassagne) – interpretam um triângulo amoroso entediante que não parece entreter o pequeno público presente.

Um corajoso espectador chamado Yannick (Raphaël Quenard) se levanta e interrompe a peça, reclamando do conteúdo e fazendo o público refém com uma arma. A argumentação do homem é o momento mais divertido e interessante do filme, provocando uma discussão sobre arte e entretenimento.

Aqui, assim como em suas outras obras, como O Segundo Ato (2024), o diretor Quentin Dupieux desconstrói as convenções narrativas do cinema e faz a realidade e a ficção se misturarem em filme metalinguístico que questiona o papel da arte na sociedade.

Yannick desejava apenas se divertir em meio à dura realidade da vida de um vigilante noturno. Afinal, a arte serve como distração do mundo real ou justamente para questionar o status quo? Quando tudo vira produto, o cliente tem sempre razão, mesmo na arte – e como não gosta do que vê, Yannick acredita que tem o direito de mudar o andamento da peça, exigindo que os atores improvisem uma cena escrita por ele.

Além disso, o protagonista, interpretado muito bem por Quenard, expressa ainda desdém e ressentimento pela classe artística que, com seu pretenso intelectualismo, o faz se sentir inferior e à margem da sociedade.

O diretor adiciona uma camada de controvérsia em uma reviravolta questionável, na qual Paul Rivière revela seus reais sentimentos e desejos, levantando também outra discussão sobre o poder que uma arma confere ao seu portador.

Apesar de todas essas questões relevantes, o filme perde o ritmo ao longo de pouco mais de uma hora, como se não soubesse bem qual caminho seguir. Considerando o curto tempo de duração e algumas cenas que não necessariamente acrescentam algo à trama, o longa poderia facilmente ser reduzido a um curta-metragem. O final acaba por sugerir a redenção de Yannick através da arte. Claro, todo mundo quer se sentir ouvido e valorizado, mas será que qualquer meio justifica esse fim?

Yannick é uma comédia absurda que diverte ao explorar uma premissa inusitada e retratar bem um sintoma da cultura da convergência. Porém, ao oscilar entre crítica social e entretenimento, o filme acaba se estendendo além do necessário, o que compromete seu ritmo e impacto.

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