Estreou nesta quarta-feira (30) a versão brasileira do reality show Drag Race, esperada pelo público há muitos anos. Com Grag Queen como hostess e Bruna Braga e Dudu Bertholini como jurades, um novo episódio será lançado todas as quartas-feiras no streaming Paramount+ e na MTV, às 21h. Este é mais um spin off do programa original, RuPaul’s Drag Race, que já está em sua 15ª temporada.

Durante a coletiva de imprensa realizada na tarde de ontem (29), foram feitos muitos comentários sobre a adaptação do original, como ao mudar bordões para versões brasileiras (“Hello, hello, hello” para “What’s up lindas?” e “Amém” para “Axé”) por conta da liberdade criativa possível nesta adaptação. Além disso, foram apresentados us convidades especiais e todas as participantes. Com participações que vão de Gretchen a Bruna Linzmeyer, percebe-se a preocupação em agradar a comunidade LGBQIA+, maior consumidora do programa. Em um comentário bastante preciso, Bruna Braga relembrou sua importância pela representatividade como mulher negra, da periferia e comediante – ainda que parte do público não soubesse de sua bissexualidade.
Também foram comentados o snatch game, episódio clássico do programa original no qual as competidoras fazem imitações, e a validação da arte drag brasileira como uma das melhores do mundo. Validação quase desnecessária considerando o sucesso e qualidade de artistas como Grag Queen, Pabllo Vittar, Gloria Groove, Aretuza Lovi, Samira Close, Icaro Kadoshi, Márcia Pantera e uma infinidade de nomes que vão desde a marginalidade até a aceitação completamente mainstream.
Ainda que esse pareça mais um pequeno passo para uma grande comunidade que ainda sofre muita violência em um país que acaba de sair de um governo de extrema-direita que defendia a homofobia, compreender que existe uma demanda real por esse programa que exalta a arte da transgressão é maior que o pressuposto. Pensando em como RuPaul conseguiu fazer com que a cultura drag chegasse a um nível de aceitação por um mercado igualmente conservador pode indicar mais um passo em direção a um Brasil mais respeitoso com sua arte.
Em uma visão pessoal da minha experiência como mulher bissexual, uma das experiências formadoras da minha vivência foi o momento em que um amigo, ainda adolescente, decidiu tratar sua homossexualidade de forma aberta. Lembrar de momentos como um dos melhores amigos que parou de falar com ele por um tempo, ou quando ele foi chamado de “viado” por um garoto quase desconhecido, são memórias que nunca passarão. Memórias que me mantiveram “no armário” por muito tempo, apesar de abertamente progressista, feminista, “simpatizante”. Sempre que eu falo sobre séries adolescentes que mostram amores não hétero-normativos, sobre realities de grande impacto que mostram pessoas queer, eu penso no quanto essa validação externa teria poupado anos de terapia da Carol adolescente. Então, sim, estamos em um passo pequeno da cultura pop, ainda nichada. Mas todo avanço DEVE ser comemorado. Assim como o retrocesso precisa ser revisitado.
Estarei assistindo todos os episódios, e espero poder comentar sobre a final com vocês!