A Freira 2
Texto escrito por Henrique Debski
A Freira 2 é (bem) melhor do que seu antecessor, mas ainda lhe falta personalidade.
O cineasta James Wan tem o toque de Midas em matéria de construção de franquias de sucesso, com toda a sua criatividade e visão cinematográfica. Quando Invocação do Mal foi lançado em 2013, não se imaginava que um universo tão grande se construiria em torno do filme, que agora, com “A Freira 2”, completa nove longas.

E entre os altos e baixos do “Invocaverso” (ou “The Conjuring Universe”), não surpreende que A Freira, de Corin Hardy, tenha conseguido uma sequência, pois, apesar da fraca recepção, tanto por parte da crítica quanto do público, foi uma obra rentável para o estúdio.
Desta vez nas mãos de Michael Chaves (responsável pelos fracos A Maldição da Chorona e Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio), a sequência tinha o dever de superar seu antecessor, o que não era uma tarefa muito complexa. E consegue este feito, mas não ao ponto de tornar-se memorável
Em sua terceira entrada no Invocaverso, Chaves já mostra uma evolução na direção de longas-metragens, mas ainda se encontra limitado em emular os feitos de James Wan, ao invés de buscar por um estilo próprio.
E essa tentativa torna o filme repetitivo, com uma fórmula de terror que se converte em um ciclo vicioso durante os dois primeiros atos, onde a antagonista aparece sempre da mesma forma, e termina em um previsível “jump-scare”: silêncio repentino, personagem desconfia, ouve barulhos, caminha para investigar e, finalmente, um susto, podendo terminar ou não em morte a depender da finalidade da cena e do destino desejado à vítima.
O que salva, porém, os dois primeiros atos de tornarem-se enfadonhos como o primeiro filme, é a bem-vinda proposta investigativa, importada de Invocação do Mal 3. Para tanto, existem dois arcos distintos: o primeiro acompanha Maurice (Jonas Bloquet), possuído ao final do primeiro filme e agora tentando reconstruir sua vida, sem perceber que carrega consigo a presença maligna, o que faz dele perigoso por ser o receptor do mal[AB1] ; e o segundo, liderado pela Irmã Irene (Taissa Farmiga), representa o Vaticano e a Igreja Católica na busca por conter e impedir o demônio.
Mas é uma pena que tal dinâmica não seja bem aproveitada pelo roteiro de Ian Goldberg, Richard Naing e Akela Cooper na medida em que não se preocupa em desenvolver os personagens para além do mínimo necessário, se restringindo à traços superficiais e, no máximo, traumas e feridas do passado. A própria investigação avança com demasiada facilidade, e a principal pista vem através de uma visão da personagem de Taissa Farmiga.
Com mais destaque na narrativa, Irmã Irene é por diversas vezes reverenciada pelo texto e pela própria direção, especialmente quando se tem em vista os eventos do primeiro filme. Há êxito na tentativa de justificar os sonhos e sua visão (por mais muletas que sirvam ao roteiro) sob o manto da santificação. No entanto, isso acaba sendo pouco aproveitado, e talvez seja um possível gancho para a sequência.
Já a antagonista, Valak, tem objetivos e métodos inconsistentes ao longo do filme. Se desde o início ela tinha um objetivo específico, por que fica perdendo tempo caçando pessoas aleatórias? Talvez seja possível usar este traço como forma de caracterizar sua maldade demoníaca, mas na prática duas coisas ficam nítidas: os “heróis” precisam ter uma margem de tempo para agir contra ela; e o filme precisava de alguns sustos extras.
Nisso, seu plano antagônico é respaldado por uma antiga relíquia, o que confere um ar de misticismo extra ao universo de Invocação do Mal – e até um pouco de caça ao tesouro também -,de forma menos artificial que a do filme anterior. Isso melhora a batalha final, que, apesar de simples, apresenta um visual interessante e uma metáfora criativa.
No entanto, a figura da freira demoníaca é pouco explorada, com sua imagem sendo desgastada cedo demais, durante o primeiro ato. No restante do filme ela utiliza outros meios e seres para realizar seus ataques, tirando a pouca originalidade restante na personagem que titula o filme.
Em linhas gerais, não falta terror e sustos em A Freira 2, típico “terror pipoca” ou “terror de shopping”, que usa artifícios clichês para assustar o público, algumas vezes até de forma elaborada, com mais criatividade e inspiração, superando seu antecessor.
Mas a direção de Michael Chaves, apesar de mais madura do que nos outros projetos, não consegue se desvincular da emulação do estilo de Wan. Ela também falha em sustentar um clima de tensão duradouro ou sustos imprevisíveis, sempre dependendo da mesma trilha sonora e de uma mesma fórmula para os jumpscares artificiais, que, além de desperdiçarem a atmosfera sombria da presença demoníaca, aos poucos tornam-se previsíveis e perdem o impacto.
Tais considerações, todavia, não fazem de A Freira 2 uma bomba, ainda mais quando comparado ao primeiro. É um filme divertido, mas que não busca refrescar o estilo e nem possui uma personalidade própria, perdendo oportunidades de aterrorizar com seus sustos vazios e inúmeras conveniências, diminuindo o risco e o potencial de uma ameaça real aos personagens e ao universo.
nn