Estranha Forma de Vida (Pedro Almodóvar, 2023)
Texto escrito por Jean Werneck
Em novo curta, Almodóvar cria western revisionista carregado de desejo.
Pedro Almodóvar é um dos diretores mais consistentes da atualidade com um ecinema que trabalha sexualidade e aprofunda sentimentos de maneira sempre viva e pungente. Em Estranha Forma de Vida uma dupla de amigos se reencontra após 25 anos e reacende a chama da antiga paixão secreta, contudo, o motivo da visita revela um conflito que coloca em cheque a honra de ambos. A partir desse roteiro a identidade cinematográfica do diretor é impressa com uma roupagem um pouco mais ousada ao se aventurar no gênero do velho oeste e explorar a liberdade criativa dos curtas.

Primeiramente, podemos falar do comprometimento com o gênero. Um dos maiores acertos é a escolha de Ethan Hawke e Pedro Pascal para representar uma dupla de cowboys com uma química sensual e bruta. Desde o figurino rústico até os valores morais que direcionam os personagens, Almodóvar investiga como reverenciar um dos gêneros mais lucrativos de Hollywood a sua própria maneira, utilizando o confronto armado como clímax final (clássico do gênero faroeste) para dar o desfecho ao sentimento fatal não assumido entre os protagonistas. Dito isso, seu estilo prevalece nos detalhes. As cores vibrantes, a câmera sugestiva, a tensão sexual da mise-en-scène, tudo é tricotado pelos olhares e diálogos dos protagonistas. Nessa camada, o diretor trabalha o amor proibido e o desejo reprimido recorrente em seus filmes. A novidade, entretanto, habita em tentar redirecionar o olhar costumeiro do western – se inspirando nos excelentes “Ataque dos Cães” e “First Cow” – para remodelar o estilo clássico sob uma outra perspectiva.
Ademais, Almodóvar opta por um curta-metragem com final em aberto para dar forma à história que começou com rascunhos e veio a se tornar algo mais conciso, mas não necessariamente bem acabado. Em um entrevista exclusiva para ser exibida após as sessões nos cinemas, ele descreve uma continuação do que teria ocorrido no restante da narrativa. Essa espécie de “final explicado” dada pelo diretor é o que murcha completamente sua escolha por fazer uso da liberdade criativa enão ter que dar tantas justificativas. Tal fala sabota o formato escolhido e mostra que Estranha Forma de Vida poderia ter sido mais do que foi, se melhor bem finalizado.
Portanto, Strange Way of Life consegue cativar, mas não conquista por sua história de amor e aventura ser contada pela metade e terminar com um tom de aperitivo mesmo com o potencial de ser o prato principal.
Este filme está sendo distribuído pela O2 Play. Verifique as sessões na sua cidade.