Licorice Pizza (Paul Thomas Anderson, 2021)

Enquanto a pandemia de Covid-19 estava em seu ápice, muito se escutava entre os cinéfilos sobre qual seria o tipo de filme apreciado quando o período começasse a chegar ao seu fim, e a maioria dos especialistas no mercado cinematográfico apostava em filmes mais leves, românticos e muitas vezes nostálgicos que levassem os espectadores para um período diferente do vivido recentemente.

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E então, o novo filme do renomado diretor Paul Thomas Anderson (Sangue Negro, Magnólia) surge na disputa por três das mais importantes estatuetas da noite do Oscar, Melhor Filme, Melhor Roteiro Original e Melhor Direção trazendo às telas a história de uma grande amizade entre dois jovens em uma saudosa Los Angeles dos anos 1970. Acompanhamos Alana e Gary em suas aventuras através da cidade enquanto eles aprendem mais sobre relacionamentos, como ganhar dinheiro, maturidade e até amor.

É peculiar que a obra seja situada em um período de tempo tão próximo de Era uma vez em Hollywood, de Quentin Tarantino, que se passa na mesma cidade mas possui tanto clima quanto foco narrativo completamente diferentes, sendo que o filme de Tarantino conta sobre o final de uma era, enquanto este tenta trazer o início dos tempos seguintes, muito mais alentadores. Se no primeiro acompanhamos uma Los Angeles com atores em decadência e ascensão da seita de Charles Manson, aqui os maiores problemas parecem ser a falta de clareza sobre os próximos passos dos jovens protagonistas, enquanto tudo parece possível a eles.

Não à toa, a trilha sonora da obra é incrível, trazendo tudo o que os anos 1970 produziram de melhor, de uma abertura de Nina Simone passando por The Doors e chegando a David Bowie. Felizmente, de maneira diferente de outros filmes que utilizam músicas muito conhecidas, o diretor consegue controlar perfeitamente suas cenas, não deixando que a trilha se sobreponha à narrativa. Neste mesmo sentido, apesar da participação de atores como Sean Penn e Bradley Cooper, é interessante como eles são acrescentados à obra sem desfocar o protagonismo dos jovens atores principais.

Ainda sob a perspectiva de controle, este parece ser um dos filmes mais fluidos de P.T.A., principalmente se considerarmos obras anteriores como Magnólia, na qual todas as cenas de diversas tramas precisavam chegar a um ponto específico no qual seu ápice culmina ao mesmo tempo. Em Licorice Pizza, a narrativa realmente apenas acompanha os protagonistas e suas aventuras, sem a necessidade de tamanha precisão. No entanto, seria injusto com Paul Thomas Anderson e seu co-diretor de fotografia Michael Bauman ignorar o quanto a fotografia ajuda a contar a história através dos enquadramentos e iluminação extremamente variados, chegando a um ápice clássico da comédia romântica na última cena.

Um ponto de atenção é perceber o quanto a personagem Alana passa por dificuldades enquanto tenta se adequar ao que os homens ao seu redor esperam dela, de seu pai a todos os seus interesses amorosos. Apesar de Gary também passar por momentos constrangedores para tentar impressionar a garota mais velha, é bastante claro como a desigualdade entre gêneros se faz presente na trama, até pela ausência de outras personagens femininas relevantes.

O resultado é um filme divertido de assistir, mas que incomoda um pouco todas as vezes que lembramos da diferença de idade entre os personagens principais – algo que o diretor utilizou como inspiração para o roteiro, mas que não tem o mesmo apelo inocente dos anos 70 no atual 2022.

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