Ligação Explosiva (Kim Changju, 2021)

Quando um determinado filme de um país considerado menos comercial aparece em diversos festivais pelo mundo, é comum que muitas outras obras da mesma região, e principalmente que se relacionem tematicamente ou esteticamente com ele passem a receber maior enfoque e distribuição. No caso brasileiro, isso ficou claro com os chamados favela movies que surgem após as premiações de Cidade de Deus. Já no mais recente caso coreano, com a vitória de Parasita no Oscar de 2020, seguiu-se uma crescente de distribuição de obras do país, indo dos mais doces doramas até séries violentas como Round 6. E o filme Ligação Explosiva do diretor Changju Kim parece ser uma das consequências desse maior acesso à produção cultural coreana.

O longa-metragem parte de uma proposta direta: um homem rico, em uma bela manhã, vai levar os seus filhos à escola, e quando entra no carro descobre que ele foi armado com bombas que explodirão caso alguém saia do veículo. A condição para que todos saiam vivos é que as exigências do criminoso sejam satisfeitas, com uma grande quantia de dinheiro sendo entregue a ele. A diversão do filme se dá ao descobrir os detalhes dessa trama e acompanhar as excelentes cenas de ação de seu desenvolvimento.

Perceber que esse é o primeiro filme que Changju Kim assina como diretor após muitos anos trabalhando em equipes de edição de muitos filmes, ganhando inclusive premiações pelo seu trabalho em O Expresso do Amanhã (2013), ajuda a compreender o sucesso das cenas de ação. Há clareza em todos os movimentos executados provocando uma imersão ao espectador, que se envolve nas reviravoltas do ocorrido e espera ansiosamente qual será o próximo passo grandioso que ocorrerá.

A relação entre pai e filhos mostrada em tela, e que passa por diversas descobertas e provações, também ajuda na construção do roteiro. Se inicialmente vemos um homem distante e que mal sabe o que sua esposa iria fazer ao longo do dia, dado o foco em seu próprio trabalho, a trama funciona como uma jornada de reflexão sobre o que seria importante em sua vida, dada a possibilidade de perdê-la. Isso é reforçado pelas atuações de Woo-jin Jo como Sung Gyo, o pai da família que se vê diante de escolhas complexas e que arriscam a própria vida, e Jae-in Lee, que interpreta a filha Hye In, que inicia o longa-metragem como a filha mimada e distante e que se torna adulta ao passar do longa. É importante observar que a atuação é mais naturalista e voltada ao público acostumado às produções estadunidenses do que mais expressivas como costumam ser as orientais, algo que pode derivar do sucesso internacional de Parasita e o projeto cultural sul-coreano de exportar sua cultura.

Há um fator que, pelo outro lado, afasta o espectador brasileiro, dadas as diferenças culturais que permeiam as decisões do protagonista. Algumas especificidades sócio-culturais do país que surgem principalmente em seu segundo e terceiro atos são estranhas aos nossos costumes. No entanto, por essa ser uma adaptação de uma obra espanhola, e que também teve uma adaptação alemã e futuramente será adaptado aos Estados Unidos, o que possibilitará uma comparação raramente vista entre modos de produção e adaptações de roteiro de diversos países. No caso sul-coreano, há foco na desigualdade social e na moralidade que não são comuns às classes econômicas elevadas brasileiras, causando um estranhamento ao terminar o filme.

Para os fãs do gênero de ação, o filme trás todos os elementos de fotografia, direção e edição que não deixam a desejar da técnica hollywoodiana, já muito conhecida nesse ramo do cinema. Aos menos interessados no gênero, mas com interesse na difusão da cultura coreana, há também muito material para refletir sobre as adaptações realizadas e estrutura da obra, que evidencia as desigualdades do país. Por fim, ao espectador desavisado que vai ao cinema assistir um filme de ação, ele será uma boa descoberta fora da produção estadunidense.

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